Leia na íntegra a carta de renúncia enviada à Câmara por Derosso
"Senhores Vereadores da Mesa da Câmara Municipal de Curitiba
Considerando que como Vereador de Curitiba sempre pautei minhas ações na defesa deste Legislativo e que em momento algum exorbitei das atribuições de Presidente a mim conferidas, pela maioria dos membros desta Casa;
Considerando que durante estes últimos meses esta Câmara Municipal tem sido alvo de denúncias relacionadas à minha pessoa, ainda não provadas e que se encontram sendo apuradas pelos órgão (sic) competentes do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado do Paraná;
Visando preservar meus pares, bem como a instituição Câmara Municipal de Curitiba de acusações negativas e inverídicas, venho pelo presente, renunciar ao cargo de Presidente da Câmara Municipal de Curitiba, pelo que me faculta o artigo 30 do Regimento Interno.
João Claudio DerossoVereador"
Placar do afastamento
Confira quais foram os 32 vereadores que assinaram a representação pedindo a destituição de João Cláudio Derosso da presidência da Câmara:
Quem assinou
Aladim Luciano (PV); Aldemir Manfron (PP); Algaci Túlio (PMDB); Beto Moraes (PSDB); Caíque Ferrante (PRP); Dirceu Moreira (PSL); Celso Torquato (PSD); Dona Lourdes (PSB); Denílson Pires (DEM); Emerson Prado (PSDB); Felipe Braga Côrtes (PSDB); Francisco Garcez (PSDB); Jair Cézar (PSDB); Jairo Marcelino (PSD); João do Suco (PSDB); Jonny Stica (PT); Jorge Yamawaki (PSDB); Juliano Borghetti (PP); Julieta Reis (DEM); Odilon Volkmann (PSDB); Noêmia Rocha (PMDB); Paulo Salamuni (PV); Pedro Paulo (PT); Professor Galdino (PSDB); Professora Josete (PT); Renata Bueno (PPS); Roberto Hinça (PSD); Serginho do Posto (PSDB); Tico Kuzma (PSB); Tito Zeglin (PDT); Zé Maria (PPS); e Zezinho do Sabará (PSB).
Não assinaram*
Julião Sobota (PSC); Nely Almeida (PSDB); Pastor Valdemir Soares (PRB); e Paulo Frote (PSDB);
* Como presidente interino, Sabino Picolo (DEM) não podia assinar.
Entenda o caso
O presidente da Câmara de Curitiba João Cláudio Derosso renunciou da presidência oito meses após as primeiras denúncias contra ele:
2011
Julho Reportagem da Gazeta do Povo mostra que contratos de publicidade da Câmara, feitos com as empresas Oficina da Notícia e Visão Publicidade, eram investigados pelo Tribunal de Contas (TC) por suspeitas de irregularidades. A proprietária da Oficina, Cláudia Queiroz Guedes, é mulher de Derosso. Ao todo, R$ 31,9 milhões foram administrados pelas empresas; R$ 5,1 milhões pela empresa de Cláudia. O Conselho de Ética da Câmara recebe denúncia contra Derosso.
Agosto 36 dos 38 vereadores assinam requerimento de instalação de uma CPI. Derosso nega irregularidades em depoimento ao Conselho de Ética. Diz ser vítima de perseguição política. Renata Bueno (PPS) e a bancada de oposição pedem seu afastamento definitivo da presidência.
Setembro O vereador Jorge Yamawaki (PSDB), relator do caso no Conselho de Ética, apresenta relatório pedindo o afastamento de Derosso da presidência. A decisão, entretanto, emperra em subcomissão designada para relatar a resolução e apresentá-la em plenário. Paralelamente, a CPI inicia seus trabalhos.
Outubro TC inicia uma tomada de contas especial para aprofundar a investigação sobre indícios de 12 irregularidades encontradas nos contratos de publicidade da Câmara. A tomada de contas deve ser encerrada em abril.
Novembro MP apresenta denúncia à Justiça de improbidade administrativa contra Derosso, Cláudia e quatro funcionários da Câmara. Também pede, em caráter liminar, o afastamento do vereador da presidência. Derosso se antecipa e, antes de a Justiça se manifestar, pede seu afastamento temporário por 90 dias.
Dezembro A CPI encerra seus trabalhos e apresenta relatório que isenta Derosso de responsabilidade pelas irregularidades na publicidade. Oposição apresenta relatório paralelo, responsabilizando o vereador.
2012
Fevereiro Derosso "renova" sua licença de 90 dias, somando um total de 180 dias mais do que o máximo permitido regimentalmente. Oposição volta a pedir seu afastamento definitivo da presidência. Mas desta vez contando com o apoio de vereadores da situação.
Março Sem apoio, Derosso renuncia da presidência da Câmara.
Depois de 15 anos no comando da Câmara de Curitiba, o vereador João Cláudio Derosso (PSDB) renunciou ontem à presidência da Casa. O anúncio ocorreu quando os vereadores discutiam quem participaria da comissão processante que analisaria o pedido de sua destituição do cargo. Uma nova eleição para escolher o presidente vai ocorrer na próxima segunda-feira.
Antes da escolha dos vereadores que fariam parte da comissão processante, o presidente em exercício da Câmara, Sabino Picolo (DEM), leu o pedido de renúncia de Derosso. Nele, o ex-presidente afirma que a saída do comando da Casa foi para preservar os vereadores e a Câmara. "Visando preservar meus pares, bem como a instituição Câmara Municipal de Curitiba de acusações negativas e inverídicas, venho pelo presente renunciar ao cargo de presidente", diz o documento.
Derosso resistia à pressão pela sua saída desde julho de 2011, quando a Gazeta do Povo mostrou denúncias de irregularidades nos contratos de publicidade da Casa. À época, sem apoio da base aliada, a oposição começou a cobrar o afastamento dele do cargo.
Após sobreviver a uma CPI e a uma investigação do Conselho de Ética da Câmara no ano passado, Derosso perdeu na última semana o apoio de 32 dos 37 colegas dele na Câmara em grande medida devido ao temor de que a permanência do tucano no comando da Casa prejudicasse a eleição de todos e areeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB). O grupo dos 32 assinou um requerimento para abrir uma comissão para analisar a possibilidade de destituí-lo do cargo.
Tucanos descontentes
Onze dos vereadores que assinaram o pedido de renúncia são do PSDB o partido de Derosso. Além disso, a executiva municipal da legenda iria discutir ontem à noite a possibilidade de pedir a renúncia de Derosso do cargo (o presidente estadual do partido, Valdir Rossoni, já havia feito essa cobrança anteriormente). Sem apoio do partido, Derosso não resistiu à pressão e renunciou ao cargo.
Procurado pela reportagem, o presidente municipal do PSDB, Fernando Ghignone, disse que a decisão tomada por Derosso foi pessoal e que a executiva municipal não o influenciou a deixar a presidência.
Porém, o líder do PSDB na Câmara, Emerson Prado, disse que os debates internos na legenda persistiram após a sessão da última quarta-feira. "As conversas do partido continuaram nesse período. Tudo isso colaborou para o pedido de renúncia", afirmou.
Prado fez questão de ressaltar, no entanto, que não houve interferência do prefeito Luciano Ducci (PSB). "O prefeito não influenciou de nenhuma maneira." Antes das denúncias, Derosso era cotado para ser candidato a vice-prefeito na chapa de reeleição de Ducci na eleição de outubro.
Comemoração
Prado comemorou a saída de Derosso. "É um momento histórico. A situação chegou ao extremo e o Derosso fez uma demonstração de grandeza ao tomar essa atitude", disse ele. O vereador Paulo Frote (PSDB), porém, classificou a decisão como eleitoreira. "Como a Câmara aprovou o afastamento [por mais 90 dias, em fevereiro], não poderia pedir a renúncia. Esse posicionamento se deve à eleição."
A oposição destacou o papel da pressão da sociedade na renúncia de Derosso. "A pressão da destituição partiu da sociedade. É preciso mudar a forma de administrar a Casa", afirmou Paulo Salamuni (PV). "Havia a expectativa de que ele renunciasse. Quando a maioria dos vereadores se posiciona dessa forma, a saída é incontestável", disse Jonny Stica, líder da oposição. "Foi uma surpresa boa, mostrando quanto o Poder Legislativo está sendo alterado. O mérito é da população", afirmou Renata Bueno (PPS).
A Gazeta do Povo tentou ouvir Derosso. Mas ele não foi localizado.
Situação mudou em apenasuma semana
Rogerio Waldrigues Galindo
Embora as denúncias contra João Cláudio Derosso (PSDB) tenham vindo a público há oito meses, foi na semana passada que a situação do presidente começou a ficar insustentável. Até então, a bancada di prefeito Luciano Ducci (PSB) na Câmara vinha dando apoio quase integral a Derosso. A punição sugerida ao ex-presidente pelo Conselho de Ética da Casa foi arquivada e a CPI que investigou Derosso terminou sem recomendação de penalidades.
No fim de fevereiro, Derosso havia pedido para estender por mais 90 dias sua licença do cargo. A solicitação foi aprovada sem pronuncimentos em contrário. Mas a oposição disse que não sabia que era isso que estava sendo votado e apresentou um requerimento pedindo o afastamento definitivo do cargo e a realização da eleição de seu substituto. Até então, a adesão ao novo pedido da oposição tinha pouca adesão.
Na segunda-feira da semana passada (dia 5), a Gazeta publicou reportagem mostrando que Derosso, embora estivesse afastado oficialmente do cargo, continuava tendo poder e regalias na Câmara. A matéria revelou que ele continuava, inclusive, usando a sala da presidência.
Os vereadores da bancada situacionista passaram então a apoiar o requerimento pedindo a saída de Derosso. O documento, que tinha apoio apenas de sete vereadores, logo passou a contar mais adesões e chegou a 32 assinaturas. Sem apoio dos pares, Derosso não teve alternativa e acabou renunciando.
Interatividade
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Colaborou Chico Marés.
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