Roberto Gurgel
Procurador-geral rebate acusação de que STF agiu como corte de exceção
Agência Estado
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse ontem que é "absolutamente despropositada" a afirmação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, em nota divulgada na noite de terça-feira, de que o julgamento do mensalão foi realizada por uma Corte de "exceção". Dirceu ainda alega que não havia provas para condená-lo nos autos. Gurgel reagiu: "É um julgamento que, longe de constituir julgamento de exceção, constitui um exemplo magnífico de um julgamento feito por um tribunal de um país em que o Estado Democrático de Direito vigora".
Um dia após definida a condenação do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente do PT José Genoino no processo do mensalão, dirigentes do Partido dos Trabalhadores fizeram um desagravo aos dois e os aplaudiram em encontro do Diretório Nacional do partido, realizado em São Paulo.
O PT e aliados da legenda também buscaram construir um discurso para minimizar o impacto da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a opinião pública. Basicamente, a argumentação foi de que os condenados ainda irão provar sua inocência e que o STF cedeu à pressão de forças conservadoras e da imprensa no julgamento.
O governo federal, porém, buscou se isolar dos possíveis efeitos negativos do julgamento: Genoino, que ocupava o cargo de assessor especial do Ministério da Defesa, pediu demissão.
Aplausos
Dirceu já havia se manifestado por nota na noite de terça-feira, dizendo respeitar a decisão do Supremo de condená-lo por corrupção ativa, mas afirmando que ainda iria provar sua inocência sem se referir como. Ontem, o ex-ministro da Casa Civil, considerado o mandante do mensalão, não deu declarações públicas e evitou a imprensa. Mas foi recebido com aplausos em reunião do Diretório Nacional do PT, segundo relatos de petistas.
Aos colegas de partido, Dirceu fez um breve discurso, destacando que a legenda terá de lidar com o julgamento do mensalão e conclamando os correligionários a estabelecer como prioridade neste momento as eleições municipais em todo o país. De acordo com ele, no topo das prioridades está a vitória do petista Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo, cujo adversário é o tucano José Serra. "Mais importante do que discutir o julgamento é ganhar a eleição", disse o ex-ministro.
Genoino também participou da reunião do Diretório do PT. Segundo relatos de petistas, ele causou comoção ao ler uma carta em que também diz ser inocente. "Ele foi aclamado e aplaudido em pé pela plateia, que gritava: Genoino, guerreiro do povo brasileiro", disse um dos participantes.
Genoino também leu a carta a jornalistas que cobriam a reunião. Na carta, ele disse que está indignado porque considera que sua condenação foi "uma injustiça monumental". Invocando a frase do escritor Mário Quintana: "Eles passarão, eu passarinho", Genoino leu o texto de uma folha e meia com os olhos marejados, porém manteve um tom altivo, dizendo que, apesar de ser favorável a que as decisões do STF sejam cumpridas, ele se reserva ao direito de discordar e discutir a sentença que lhe foi imposta e que será obrigado a cumprir.
"Como posso esperar um julgamento sereno, num momento em que juízes são pautados por comentaristas políticos", criticou. E destacou que o julgamento coincidiu "matematicamente" com as eleições municipais. No final do texto, Genoino diz que sua condenação é uma tentativa de condenar também o seu partido, o PT, e que setores contrários à legenda fracassarão.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, acusou o STF de atender a "conservadores". A Central Única dos Trabalhadores (CUT), historicamente vinculada ao PT, seguiu na mesma linha e emitiu na tarde de ontem uma nota em que "repudia o comportamento" do STF, acusando o Supremo de ter se colocado "a serviço dos conservadores" e da "imprensa neoliberal" durante o julgamento do mensalão. "A CUT é solidária com LULA [sic] e com o Partido dos Trabalhadores, responsáveis pelas profundas transformações recentes no país", diz a central na nota. O ex-presidente Lula não é réu do processo do mensalão, embora seja acusado por partidos de oposição de ter sido o mandante do esquema de compra de votos no Congresso.
Já o governador da Bahia, Jaques Wagner, disse que o mensalão foi uma "trapalhada" do partido, mas considerou que houve uma "espetacularização" do julgamento do caso. Wagner disse, seguindo a linha de defesa dos acusados pelo partido, que mensalão na verdade foi um caso de caixa 2 e não de compra de apoio no Congresso. "Desconheço compra de apoio. O que sei é de uma arquitetura para fazer mil prefeituras em 2004, para chegar com mais musculatura para a reeleição de Lula. E aí foi a grande trapalhada. Lula já tinha maioria na Câmara", disse Wagner.
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