Desde que fechou o acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria Geral da República), em novembro de 2015, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró vem causando problemas na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, onde está preso. A principal reclamação é que o ex-executivo passou a destratar e desrespeitar os agentes penitenciários.
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O clima ficou insustentável na semana passada. Numa discussão, Cerveró apontou o dedo em riste no rosto de um dos funcionários da prisão, segundo relatos obtidos pela reportagem. Advogados e policiais que têm acesso a presos do local disseram que os motivos do destempero de Cerveró seriam o atraso do banho de sol e a insistência do delator em ter acesso a algumas regalias, como um frigobar na cela.
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Como resposta, ouviu de um dos policiais que controlou a situação que ele era um preso comum, como um traficante ou um contrabandista.
A atitude fez com que não só Cerveró, mas todos os presos da Operação Lava Jato detidos no local tivessem alguns direitos suspensos, como banho de sol e conversas reservadas com os advogados, que passaram a acontecer apenas no parlatório – local em que os detentos são separados das visitas por um vidro e podem se comunicar por meio de um telefone.
A punição para o ex-diretor foi maior. Ele deixou de dividir espaço com o pecuarista José Carlos Bumlai, seu companheiro desde novembro, e foi colocado em uma cela sozinho. Além disso, Cerveró não pôde tomar banho no chuveiro, que fica ao fundo da ala dos presos, por dois dias.
Os outros detentos, que já vinham reclamando do comportamento prepotente de Cerveró desde que voltou de uma temporada de dez dias com a família em Itaipava (RJ) negociada com a PGR no escopo de sua delação, passaram a se incomodar ainda mais com ele após a restrição dos direitos.
Advogados dos demais presos chegaram a procurar a defensora do ex-diretor, Alessi Brandão, que conversou com seu cliente sobre seu comportamento intempestivo.
Conforme o acordo de delação homologado pelo STF (Superior Tribunal Federal), o ex-diretor da estatal permanecerá em regime fechado pelo menos até junho. Cogita-se a possibilidade de pedir a transferência de Cerveró, que cumpriria o tempo que falta para a ir para a prisão domiciliar em outro local.
Fase depressiva
Preso há mais de um ano, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró ficou conhecido nos meses em que esteve entre a carceragem da PF e o CMP (Centro Médico Penal), onde estão a maioria dos presos da Lava Jato, em Pinhais, pela oscilação de comportamento.
Em fevereiro de 2015, pouco depois de ser preso, a psiquiatra do ex-executivo enviou uma solicitação à Justiça para que ele fosse submetido a um tratamento com antidepressivos. No documento, a médica já havia relatado que desde o início de 2014, quado a operação Lava Jato eclodiu, o ex-executivo vinha apresentando “sintomas depressivos severos”.
Cerveró também chegou a receber atendimento ao apresentar crises de ansiedade, com sintomas como alta de pressão. O quadro psicológico do ex-diretor chegou a ser um questionamento para que os procuradores firmassem acordo de delação premiada. Muitos companheiros de cela dele, como o lobista Fernando Soares, o Baiano, chegaram a questionar a sanidade mental de Cerveró.
Com crises de choro constantes, ele costumava recorrer aos outros presos que hoje não se mostram mais dispostos a ajudá-lo. Procurada, a defesa dele não se manifestou sobre o caso.