O secretário de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Ricardo Barros (PP), vai se afastar do cargo por 90 dias a partir do próximo dia 10. Neste período, Barros diz que pretende se dedicar à campanha eleitoral de Londrina e Maringá. Quem deve assumir interinamente a pasta é o diretor-geral, Ercílio Santinoni.
Oficialmente, a assessoria de Barros e do governo afirmam que o pedido partiu do secretário. No entanto, o governador Beto Richa (PSDB) deu a entender ontem, numa entrevista concedida à imprensa, que o afastamento partiu do governo. "Eu falei para ele das necessidades e das razões e ele prontamente entendeu. Ele já estava disposto a se licenciar para cuidar da campanha eleitoral e agora está sendo afastado por 90 dias", disse. "Ele aproveita esses 90 dias para cuidar da sua defesa de todas as denúncias que foram feitas recentemente", completou Richa, que autorizou a licença sem remuneração.
Apesar da declaração, tanto a assessoria do governo quanto a de Barros negam que o afastamento tenha relação com as denúncias contra o secretário reveladas pela Gazeta do Povo. A reportagem teve acesso a uma gravação telefônica, interceptada pelo Ministério Público do Paraná com autorização judicial, que mostra Barros orientando um secretário da prefeitura de Maringá a fazer um "acordo" entre duas agências de comunicação que disputavam licitação de publicidade da administração municipal no valor de R$ 7,5 milhões.
A gravação faz parte da investigação aberta pelo MP para apurar o suposto crime de fraude em licitação pública. Na conversa, Barros pede a Leopoldo Fiewski (na época, secretário municipal do Saneamento, hoje na Fazenda) para fazer um entendimento entre as duas empresas que disputavam o certame a Trade Comunicação, de Curitiba, e a Meta Publicidade, de Maringá. "Eu queria que você promovesse uma conversa dos dois: da Trade com a Meta. (...) Um acordo nisso aí. Tá bom? (...) Veja pra mim se dá pra fazer um entendimento aí o mais rápido possível entre os dois", diz Barros. Ainda em meio ao diálogo, o secretário estadual afirma: "Quem sabe fazemos uma solução salomônica".
Além da suspeita de fraude na licitação, o MP tem indícios da ingerência de Ricardo Barros nas ações da prefeitura de Maringá, administrada pelo prefeito Silvio Barros (PP) que é irmão do secretário. Essa interferência de um secretário de Estado numa administração municipal viola, segundo juristas ouvidos pela reportagem, normas jurídicas nos âmbitos penal, civil e administrativo.
Após as denúncias, os vereadores de Maringá tentaram instalar uma CPI para investigar a prefeitura. Partidos de oposição ao prefeito chegaram a anunciar que entrariam com representação na Justiça Eleitoral para impugnar a candidatura do vice-prefeito Carlos Roberto Pupin (PP), aliado da família Barros.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião