Brasília (AE) Uma mensagem divulgada pelo diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, Mauro Marcelo de Lima e Silva, na rede interna da instituição, custou sua demissão do posto. Ontem, por volta de 22 horas, Mauro Marcelo apresentou seu pedido de demissão ao presidente em exercício, José Alencar, depois que sua situação se tornou politicamente insustentável.
No e-mail, ele classifica os integrantes da CPI dos Correios como "bestas-feras em pleno picadeiro". O texto acabou sendo copiado e divulgado no Congresso, onde provocou reações iradas. O presidente do Senado, Renan Calheiros, chegou a telefonar para o Palácio do Planalto para pedir a cabeça de Mauro Marcelo. O episódio foi considerado tão grave que levou o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix, a ligar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que realiza visita oficial a Paris. Depois de saber da crise, Lula avaliou que a situação se tornara incontornável e autorizou a troca de Marcelo.
O motivo da irritação do diretor da Abin foi a convocação do agente Edgar Lange para depor na CPI.
A avaliação de Mauro Marcelo é que a exposição pública proporcionada pelo depoimento poderia prejudicar o trabalho da instituição, baseado muitas vezes em procedimentos sigilosos.
Na mensagem divulgada na rede interna, o chefe da Abin critica também a Advocacia-Geral da União (AGU) por não ter se empenhado para impedir a ida de Lange à CPI.
No governo, há quem considere procedente a preocupação de Mauro Marcelo. O próprio general Félix tentou negociar com a CPI que o depoimento de Lange fosse realizado a portas fechadas. Mesmo assim, avalia-se que Mauro Marcelo perdeu a razão ao encaminhar a mensagem para os 1.700 funcionários da Abin, correndo o risco de ver suas críticas divulgadas para um público mais amplo, como ocorreu.
A nota de Mauro Marcelo foi divulgada na quarta-feira da semana passada, um dia depois do depoimento de Lange à CPI. O curioso é que o diretor da Abin estava de férias no exterior. Ontem, quando o e-mail chegou à CPI, ele voava de volta para Brasília, onde sua chegada estava prevista para a noite.
A Associação dos Servidores da Abin saiu em defesa de Mauro Marcelo. O presidente da entidade, Nery Kluve, atribuiu ao general Félix a decisão de deixar que Lange fosse depor na CPI e disse que ela "causou comoção e indignação" entre os 380 agentes que trabalham em campo.
"Ele agora está queimado para o trabalho e terá de ficar na geladeira porque foi completamente exposto, o que é um absurdo", afirmou Kluve. "Se cada agente que sair para um trabalho tiver de dar explicações no Congresso, é mais fácil fechar a Abin."