Análise
Aldo deve mudar com "tranquilidade", diz Gomyde
As possíveis substituições no Ministério do Esporte com a chegada de Aldo Rebelo vão ocorrer aos poucos e com "tranquilidade", diz o paranaense Ricardo Gomyde. Filiado ao PCdoB e nomeado assessor especial da pasta por Orlando Silva, ele adianta que não há um clima interno de "faxina". "O Aldo tem o seu jeito de trabalhar e vai montar a equipe dele, mas acredito que isso leve alguns dias ou semanas", adiantou.
Gomyde e o também paranaense Joel Benin trabalham na Secretaria Nacional de Futebol. O órgão começou a funcionar há dois meses e é comandado por Alcino Rocha. Para Gomyde, há menos chances de mudança na secretaria porque ela acabou de ser instalada.
Currículos
Veja o perfil profissional e político dos seis ministros escolhidos por Dilma após as crises no governo:
Casa Civil
Gleisi Hoffmann (PT) Advogada, com especialização em Gestão de Organizações Públicas e Administração Financeira. Foi secretária de Estado no Mato Grosso e secretária municipal de Gestão Pública em Londrina. Foi escolhida para uma pasta que trata da coordenação dos ministérios.
Relações Institucionais
Ideli Salvatti (PT) Licenciada em Física pela UFPR, atuou em diversos movimentos sociais e sindicatos. Foi deputada estadual por Santa Catarina por dois mandatos e senadora entre 2003 e 2010. Ocupou a liderança do governo no Congresso duas vezes. Ocupa uma pasta de articulação política.
Pesca
Luiz Sérgio (PT) Inicialmente nas Relações Institucionais, trocou de ministério com Ideli Salvatti. É metalúrgico e está licenciado do terceiro mandato como deputado federal. Assim como a antecessora, nunca havia desenvolvido atividades executivas relacionadas à pesca.
Defesa
Celso Amorim (PT) Embaixador de carreira, foi ministro das Relações Exteriores durante o governo Itamar Franco e nos dois mandatos de Lula. Foi chefe da missão permanente do Brasil na ONU. As experiências podem ser consideradas compatíveis com o perfil do Ministério da Defesa.
Transportes
Paulo Passos (PR) Economista e servidor público federal. Desde que ingressou no funcionalismo como técnico em planejamento, em 1973, foi lotado no Ministério dos Transportes. Também foi secretário-adjunto da Secretaria de Orçamento Federal por seis anos.
Agricultura
Moreira Mendes (PMDB) Advogado, está licenciado do quarto mandato como deputado federal. Foi secretário de Obras Públicas e da Casa Civil do Rio Grande do Sul. Já foi vereador em Porto Alegre e deputado estadual gaúcho, mas nunca teve experiência com agricultura.
Turismo
Gastão Vieira (PMDB) Advogado e funcionário de carreira do Conselho Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Foi deputado estadual no Maranhão e está no quarto mandato na Câmara dos Deputados. Foi secretário da Educação e do Planejamento do Maranhão, mas não teve experiências com turismo.
Esporte
Aldo Rebelo (PCdoB) Jornalista, está no sexto mandato como deputado federal. Já foi presidente da União Nacional dos Estudantes e da Câmara dos Deputados. Entre os poucos contatos com esporte, foi presidente da CPI da CBF-Nike entre 2000 e 2001.
Brasília - O decorrer das últimas três crises que levaram a demissões de ministros mostra um arrefecimento no modelo de "faxina" da presidente Dilma Rousseff. Enquanto as mudanças no Ministério dos Transportes levaram a quase 30 exonerações na pasta, os cortes foram suavizados durante as trocas de comando no Turismo, na Agricultura e, a princípio, no Esporte. Em nenhum dos casos houve uma ruptura drástica na divisão de espaços no primeiro escalão entre os partidos aliados.
Envolvido em denúncias de suposto superfaturamento de obras, recebimento de propinas e aparelhamento partidário, Alfredo Nascimento foi substituído em julho por Paulo Passos nos Transportes. Apesar de ser filiado à legenda do antecessor, o PR, Passos possui um currículo mais técnico é servidor público da área de planejamento e fez carreira no ministério desde 1973. Além disso, foram demitidos diretores dos dois principais órgãos da pasta, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e a empresa estatal de obras ferroviárias (Valec).
PMDB
O estilo da "limpa" começou a sofrer alterações com a troca de Wagner Rossi por Mendes Ribeiro, ambos do PMDB, na Agricultura. O ministério foi alvo do mesmo tipo de denúncias dos Transportes, mas Dilma cedeu às pressões da cúpula peemedebista. Em vez de um técnico, nomeou um político que nunca trabalhou com agricultura.
Ao assumir o cargo, Mendes Ribeiro chegou a dizer que teria carta branca para modificações. Até o momento, a única alteração expressiva foi a escolha de José Carlos Vaz para o lugar de Milton Ortolan. A estrutura da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foco das acusações, permanece.
Maranhão
No Turismo, o cenário foi parecido. Dilma trocou um deputado federal maranhense por outro (Pedro Novais por Gastão Vieira), os dois sem trajetória no ramo. Vieira demitiu dez funcionários comissionados, contratou cinco, e tentou emplacar um aliado da família Sarney na secretaria-executiva da pasta. Acabou optando pelo Secretário da Fazenda do Distrito Federal, Valdyr Simão, de perfil mais técnico.
Por último, a presidente seguiu a demanda do PCdoB ao nomear Aldo Rebelo para a vaga deixada por Orlando Silva no Esporte. Apesar de ter sido presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da CBF-Nike, entre 2000 e 2001, Aldo tem pouco conhecimento técnico da área. Por enquanto, há apenas uma mudança confirmada a saída do secretário-executivo Waldemar Souza, do PCdoB do Rio de Janeiro.
Efeitos
Professor de administração pública da Universidade de Brasília, José Matias Pereira avalia que as escolhas políticas estão se tornando cada vez mais nocivas para o funcionamento da máquina estatal. "É importante não só que um ministro entenda da área de atuação da sua pasta, mas se cerque de um corpo técnico de alto nível. Do jeito que está, a imagem do serviço público fica cada vez mais desgastada: ninguém sabe quem é funcionário e quem é político", diz.
Para o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper) Carlos Melo, as últimas mudanças feitas por Dilma mostram que o sistema de divisão de cargos entre aliados políticos caminha para o "colapso". "O presidencialismo de coalizão não suporta uma base tão grande e com tanta gente querendo espaço. O jogo recomeça do zero ou a situação vai ficar insustentável", afirma Melo.
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