Dois anos depois da aproximação com Antonio Belinati, José Janene já havia ampliado o leque de negócios ilícitos com a prefeitura de Londrina e municípios da região. Ele mantinha, com a ajuda dos irmãos Faiçal e Assad, desde contratos com concessionárias de veículos até o aluguel de arquibancadas para eventos. Janene também era responsável por atrair outros empreendimentos para o esquema. Foi quando ele resolveu disputar o primeiro cargo público: de deputado federal pelo PDT. Acabou alcançando somente a primeira suplência.
Já nas eleições municipais de 1992, Janene indicou seu irmão, Assad, ao cargo de vice-prefeito de Londrina na chapa encabeçada pelo então vereador pelo PT Luiz Eduardo Cheida. Foi uma aliança vitoriosa. O irmão passou, então, a comandar a Sercomtel, companhia telefônica estatal da cidade.
Por meio da Sercomtel, segundo fontes locais, Janene teria incrementado seu caixa de campanha para conquistar o almejado cargo de deputado federal. Já filiado ao PP, em 1994 Janene obteve 44,5 mil votos e alcançou seu objetivo. Deu início então a uma carreira política meteórica sem deixar de lado o perfil empresarial rígido – e individualista – com que tratava seus negócios.
Mesmo fixando residência em Brasília, Janene manteve os laços pessoais e políticos com Londrina. Conforme conta a amiga e vizinha do político Mimi Hakme, todas as semanas, de quinta-feira a domingo, ele reunia amigos para jogar tranca até de madrugada. As partidas eram regadas a magníficos jantares que ele mesmo preparava. “Ele era um exímio chef de cozinha”, conta. Raramente havia bebida alcoólica na mesa. “Ele não era de beber.” A política, segundo ela, também ficava de fora do carteado.
O deputado também manteve suas ligações com o belinatismo – termo cunhado para descrever a forma marcante com que Belinati faz política. Da aliança, segundo o promotor Esteves, nasceu o esquema de desvio de dinheiro público da venda de ações da Sercomtel, em 1998. Para maquiar as ilegalidades, Janene atraía empresas para fazer licitações fraudulentas com a administração pública, principalmente com a Autarquia de Meio Ambiente (AMA) e a Companhia Municipal de Urbanização (Comurb).
Segundo o MP, o dinheiro abastecia o caixa de campanhas eleitorais de políticos da cidade. Mas a fatia maior do bolo era reservada a Janene e Belinati. Nomes ainda pouco conhecidos – como os de André Vargas, Paulo Bernardo e Alberto Youssef – também apareceram entre os processados do caso AMA/Comurb. O caso se arrasta até hoje na Justiça. Mas culminou na cassação de Belinati do cargo de prefeito de Londrina.