Se os candidatos das eleições municipais no estado do Rio quase não aproveitaram a segurança oferecida pelos militares que ocuparam 27 áreas consideradas perigosas dentro da chamada Operação Guanabara, os fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) trabalharam como nunca durante a campanha. Nos 22 dias de atuação das Forças Armadas foram apreendidas aproximadamente 12 toneladas de propaganda eleitoral ilegal. Só ontem, no complexo do Alemão, na zona norte do Rio, os fiscais retiraram mais de dois caminhões cheios de lixo eleitoral, quase 650 kg. Desde o começo da campanha, em 6 de julho, já foram 32 toneladas em todo o estado.
A Operação Guanabara foi montada para garantir o acesso dos candidatos a regiões da cidade onde milicianos e traficantes estariam impedindo a campanha de candidatos rivais e evitar que criminosos pudessem constranger eleitores obrigando-os a votar naqueles que apóiam. No entanto, maior proveito está sendo tirado pela coordenação de fiscalização do TRE, cujo chefe, Luiz Fernando Santa Brígida, se diz impressionado com a sujeira nas regiões mais pobres da cidade.
"Nós não podemos entrar de peito aberto nas comunidades perigosas e conhecemos os lugares que oferecem risco. No começo da campanha, entramos em várias favelas com o apoio da Polícia Militar, no entanto em muitas ocasiões os fiscais tiveram que se esconder de tiros. Isso não tem acontecido nas áreas ocupadas pelos militares. Por isso, em 20 dias, recolhemos 12 toneladas e, nos primeiros 70 dias, menos de 20", disse Santa Brígida.
Na região do complexo de favelas do Alemão e da vizinha Vila Cruzeiro, onde 4.500 homens do Exército e da Marinha permanecem até amanhã, o coordenador disse ter visto ruas tomadas por faixas de todos os lados. "Parece até festa junina. Isso é um absurdo. A população ainda não se deu conta de que está sendo tratada por esses candidatos como cidadãos de segunda classe, porque esses candidatos não sujam as zonas nobres da cidade.