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O eleitor estava cansado da dicotomia? É verdade, conforme se extrai dos porcentuais de abstenção, votos brancos e nulos: somados, os números mostram que algo em torno de 30% do eleitorado paulistano não quis se manifestar.

São Paulo resolveu não arriscar e foi no tradicional, levando ao segundo turno PT e PSDB praticamente empatados.

Resultado que demonstra como a pressa não é boa conselheira: nem Lula pode ser subestimado nem o peso da polarização entre essas forças de governo e oposição deve ser posto na conta do passado.

Procurou, virou, mexeu, não encontrou e preferiu evitar aventuras. Até porque Celso Russomanno era o tipo da peripécia sem muito mistério, de risco óbvio.

No segundo turno fica tudo zero e zero, reza o dogma. Na metodologia é realmente outra eleição. Tempo igual de televisão, atenção concentrada em dois oponentes, a escolha pautada por um forte componente de exclusão, luta direta, no mano a mano.

Ocorre que os personagens são os mesmos, sendo raros os casos de virada do primeiro para o segundo turnos quando há distância razoável entre os dois finalistas.

Por causa da pequena diferença e pela influência de alguns outros fatores, em São Paulo e Salvador governo e oposição vão medir forças sem que nenhum dos lados entre em campo em situação nítida de vantagem ou desvantagem.

Serão batalhas em atmosfera de arena de leões. No caso de São Paulo especialmente, onde PT e PSDB precisam desesperadamente da vitória.

Os petistas para mostrarem que não sucumbiram ao mensalão e os tucanos para não sucumbirem ao prejuízo que uma derrota acarretaria à oposição no plano nacional.

Nesse embate nada é absoluto, tudo é relativo.

O PT tem a favor dele a rejeição a José Serra, embora ela não o tenha impedido de chegar na frente.

Fernando Haddad pode ser favorecido pelo clima de "todos contra Serra". Em termos de apoios partidários os ativos do PT são bem mais preciosos.

Terá, por exemplo, o apoio formal do PMDB. Terá uma declaração de voto de Russomanno? Se tiver, qual o poder real de transferência?

Levando em conta a velocidade com que o candidato "derreteu" nos últimos dias nota-se a inconsistência da liderança. Em alguns setores pode significar até um apoio contraproducente. Para os dois candidatos finalistas.

Quanto ao peso da presença da dupla Lula e Dilma, há dois aspectos. De um lado, a inequívoca simpatia da classe média paulistana, aquele eleitorado que rejeita Lula, em relação à presidente.

De outro, é de se ver se esse dado positivo não será neutralizado pela repercussão das condenações no Supremo Tribunal Federal e pelo antipetismo fortemente plantando em São Paulo.

São vantagens que o PSDB espera agregar ao peso das máquinas do estado e da prefeitura.

Já o PT pretende jogar com a expectativa de um monumental despejo de recursos federais na cidade.

Algo semelhante ao que ocorreu no Rio e resultou na reeleição de Eduardo Paes com 65% dos votos no primeiro turno.

Um forte argumento. Mas, dá margem ao oponente indagar da presidente da República se ela deixará de atender à cidade caso o eleitor não ceda aos seus apelos eleitorais.

O balanço de vantagens e desvantagens relativas repete-se em Salvador, embora em dimensão simbólica mais reduzida.

O petista Nelson Pelegrino tem Lula, tem Dilma, tem o governo Jaques Wagner.

Mas no primeiro turno o petista teve tudo isso, mais o apoio de 15 partidos, 600 candidatos a vereadores e 15 minutos de tempo de televisão.

Sem nada disso e com cinco minutos no horário eleitoral, o neto de Antônio Carlos Magalhães fez campanha na liderança e sobreviveu.

Resta conferir, nas duas cidades, se Lula e Dilma ainda dispõem de margem para ampliar a votação de seus correligionários ou se o que tinham para conseguir já foi incorporado ao capital conquistado no primeiro turno.

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