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Uma empresa argentina cujo dono é amigo da família Kirchner, o Grupo Índalo, recorreu em 2011 a um lobista ligado ao PMDB para tentar fechar negócios com a Petrobras, segundo relatou o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.

O ex-diretor prestou o depoimento em setembro passado, como parte do acordo de delação premiada fechado com a força-tarefa da Operação Lava Jato. O documento estava desde então sob sigilo na PGR (Procuradoria Geral da República), mas foi tornado público nesta segunda-feira (9) por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki.

No depoimento, Paulo Roberto Costa contou que um “lobista da Petrobras bem antigo”, Jorge da Silva Luz, empresário do Rio de Janeiro, procurou-o por volta de 2011 e lhe apresentou os empresários argentinos Cristobal López e Jorge Rotemberg, que “tinham interesse em adquirir” a Pesa, o braço da Petrobras na Argentina, “juntamente com todos os ativos” da estatal brasileira naquele país.

López, que assumiu publicamente na imprensa argentina manter “relações pessoais”, mas não negócios, com os Kirchner, é dono de cassinos, instituições financeiras, empresas de petróleo e empresas de comunicação, como a emissora de TV C5N.

Segundo Costa explicou em outro depoimento na Lava Jato, Jorge Luz “é muito próximo ao PMDB, especificamente ao senador [e presidente do Senado] Renan Calheiros [PMDB-AL] e ao deputado [hoje senador] Jader Barbalho [PMDB-PA], além de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro”. Costa frequentava a casa de Luz, no Rio.

Costa afirmou que numa dessas conversas ouviu do lobista que ele pagou R$ 400 mil ao deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) como fruto de uma comissão que Luz recebeu por ter conseguido a contratação, pela Petrobras, de uma empresa norte-americana especializada em fornecimento de asfalto chamada Sargent Marine. O delator também contou que manteve pelo menos duas reuniões com Luz e Vaccarezza, na casa do lobista, em um condomínio na Barra do Tijuca, no Rio.

Em 2011, segundo Costa, Luz lhe procurou para falar de interesses na Argentina. Em 2001, a Petrobras havia adquirido a Perez Companc, uma das principais empresas do setor na Argentina, que veio a formar o patrimônio da Pesa, incluindo a refinaria San Lorenzo. Segundo Costa, a compra foi “um negócio tão desastrado quanto o de Pasadena”, em referência à compra de outra refinaria nos Estados Unidos. O ex-diretor disse que, apesar de a refinaria argentina “ter dado lucro em alguns períodos”, foi “um mau negócio para a Petrobras”.

Conforme o delator, os dois empresários argentinos que o procuraram “pertenciam ao grupo Índalo, o qual é bastante forte na Argentina e possui uma aproximação bastante estreita com o governo daquele país, em especial na gestão de Nestor e Cristina Kirchner”.

Costa disse que orientou os argentinos a procurarem a presidência da Petrobras, então ocupada pelo petista Sérgio Gabrielli. Costa não soube dizer o resultado da reunião. Mas depois que deixou a Petrobras, em abril de 2012, ele novamente foi procurado por Luz, Lopez e Rotemberg, no Rio, que continuavam tentando fechar negócio com a Petrobras, pois o “pedido formal anteriormente feito não havia sido processado”.

No encontro, Costa disse que Jorge Luz e os executivos que lhe acompanhavam informaram “que a presidente Cristina Kirchner iria conversar com a presidente Dilma [Rousseff] acerca do tema”. Naquele momento, a Petrobras fazia uma série de vendas de ativos no mundo, processo chamado de “desinvestimento”. O plano incluía vender patrimônio nos EUA, Japão, Argentina e África, entre outros.

Porém, segundo Costa, depois que a relação entre os Kirchner e o Grupo Índalo “vazou” à imprensa, “a Pesa acabou saindo do portfólio de desinvestimento”.

O negócio entre a Pesa e o grupo de López acabou fechado. Em 2014, reportagens das revistas “Época” e “IstoÉ” levantaram diversas suspeitas sobre as circunstâncias do negócio. Segundo “Época”, em fevereiro de 2013 o Grupo Índalo fechou um acordo confidencial com a Petrobras pelo qual aceitou pagar US$ 900 milhões por 33% da Pesa.

Em 2013, “Época” revelou que um dos ativos da Petrobras na Argentina, a refinaria San Lorenzo, foi vendido a uma empresa do Grupo Índalo, a Oil Combustibles, com a participação de um advogado brasileiro. Em abril de 2014, a Polícia Federal informou que iria investigar, em inquérito, a venda da refinaria.

Procurada pela reportagem, a assessoria de Renan Calheiros negou que o senador seja ligado ao lobista Jorge da Silva Luz. O senador Jader Barbalho está em licença do cargo por motivo de saúde e sua assessoria não foi localizada para comentar o assunto. Procurada, a assessoria da Petrobras não havia se manifestado até as 19h desta terça. Jorge da Luz não foi localizado.

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