A relação entre o ex-deputado Luiz Argolo (SD-BA), preso na sexta-feira, 10, e o doleiro Alberto Youssef, personagem central da Operação Lava Jato, é investigada pela força-tarefa de procuradores da República e delegados da Polícia Federal. Segundo a Procuradoria da República, o ex-parlamentar teria recebido bens, propina e teria tido contas pagas pelo doleiro.
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Leia a matéria completaEm documento anexado aos autos da Lava Jato, o Ministério Público Federal diz que Argôlo ‘efetivamente colocou seu cargo à disposição de Alberto Youssef, podendo-se falar em uma verdadeira parceria entre ambos’. Na relação havia ‘a constante solicitação de vantagens indevidas por Luiz Argôlo, as quais eram adimplidas por Youssef em troca de uma promessa de influência do ex-parlamentar em favor do doleiro’.
“A prática de atos concretos por Luiz Argôlo em favor de Youssef, por sua vez, não apenas esteve sempre à disposição dele, como efetivamente ocorreu em casos concretos”, aponta a Procuradoria.
Um dos casos investigados pela Lava Jato é um suposto desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro por meio da empresa Malga Engenharia. Em relatório entregue à força-tarefa, a Polícia Federal viu indícios da participação do ex-parlamentar no caso.
Youssef disse em depoimento que a Malga Engenharia foi criada por Leonardo Meirelles para executar obras. Uma delas seria para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em Guaíra, no Paraná, com a Delta Engenharia.
“No ano de 2013, em razão de dívidas que a empresa tinha, Leonardo ofereceu a empresa para o depoente (Youssef), o qual saneou as dívidas e comprou novas máquinas novas para construção civil, tais como retroescavadeira, esteiras, trator etc. e se associou com o deputado federal João Luiz Correa Argolo, já deputado federal, e Ludovico, proprietário da Geopav, que possuía expertise na área, para prestar serviço de locação no Estado da Bahia para a empresa Renova Energia, empresa de energia eólica que estava fazendo uma grande obra naquele estado para geração de energia”, contou Youssef.
Meses antes de se associar a Youssef na Malga Engenharia, em 26 de abril de 2012, Luiz Argôlo solicitou uma audiência pública sobre energia eólica no Brasil, na Câmara dos Deputados. A justificativa era a ‘recente mudança global na matriz energética com o objetivo de integrar cada vez mais as fontes renováveis trouxe grandes ganhos a população e ao País’. O pedido foi arquivado.
“A implantação destes sistemas tem esbarrado em obstáculos de grande porte. Recentemente na Bahia um empreendimento de parceria do estado foi ativado, contudo existem problemas na ligação com a rede elétrica de responsabilidade da CHESF”, disse Argôlo à época. “Sabendo da nossa missão de antecipar os possíveis entraves a infraestrutura nacional, creio que essa comissão deve avaliar o estado desta energia tão necessária ao futuro do país. Ademais com a vinda da RIO + 20 ao país, cabe a comissão agir de forma incisiva para facilitar a conversão da matriz energética para um modelo de economia sustentável.”
Em depoimento, Leonardo Meirelles, laranja de Youssef, declarou que adquiriu a empresa Malga Engenharia por volta do ano de 2012. Segundo ele, o objetivo era atuar no ramo de locação de máquinas para empreiteiras, a partir de contatos de Youssef.
“A ideia inicial seria de adquirir máquinas usadas pelo valor depreciado da UTC (empreiteira que teve seu presidente preso na Lava Jato) e locá-las para as empresas de engenharia”, contou.
Meirelles disse que no mesmo ano, o doleiro pediu que ele adquirisse caminhões de coleta de lixo e caçambas. A ideia, afirmou o laranja do doleiro, era montar uma frota de equipamentos para atuar na coleta de lixo no interior da Bahia, estado de origem de Argolo.
“(Leonardo Meirelles) efetivamente foi até uma empresa que atua na coleta de lixo localizada em São Matheus, acompanhado do então deputado Luiz Argôlo; que visitaram também uma empresa na Marginal Tietê para aquisição de caminhões com caçamba para transporte de terra”, diz o depoimento de Meirelles.
Em março de 2013, contou Leonardo Meirelles, a empresa foi vendida para o doleiro por R$ 300 mil, sem nenhum equipamento. O ex-laranja de Youssef afirmou que Argôlo indicou um fornecedor na Bahia. Segundo ele, a compra de 4 tratores de pneu, 2 rolos compactadores, uma pá-carregadeira com esteira e uma motoniveladora de 35 toneladas foi fechada pelo ex-parlamentar.
“Na compra foi dado um sinal por Alberto Youssef, cujo pagamento foi concretizado pelo declarante com um depósito em espécie no valor aproximado de R$ 520 mil no Banco Itaú”, disse. “Esclarece ainda que a compra dos quatro tratores se deu por meio de uma empresa agropecuária de propriedade do próprio Luiz Argôlo ou de seus familiares.”
No contrato com a Renco, Argolo foi o fiador do negócio, ‘o que reforça os indícios de ligação do mesmo como “sócio oculto” da empresa Malga, ou ao menos como “participante” do esquema de contratação das obras referidas’, diz a PF. A mãe do ex-deputado foi a fiel depositária, a responsável a quem a Justiça confiaria um bem caso houvesse um processo.
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