A renúncia do senador Sibá Machado (PT-AC) ao cargo de presidente do Conselho de Ética procovou uma situação inusitada. O colegiado, que estava sob comando dos partidos aliados do governo, pode passar para as mãos da oposição no momento em que se discute a representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Elogiado pelas duas partes, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), passou a ser um dos favoritos para assumir o posto. Ricardo Noblat, em seu blog, diz que tudo não passa de uma farsa para livrar a barra de Renan.
Além dos próprios tucanos, o nome de Virgílio ganhou também o apoio do DEM. Ele já contabiliza sete votos no Conselho de Ética, mas após o aval do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), espera conseguir a unanimidade. O senador do PSDB negou algum tipo de acordo com os aliados de Renan:
- Como? Eu estou no meu canto e de repente vou fazer alguma coisa para me desmoralizar? Não vou fazer nada que me desmoralize - disse, adiantando que, eleito, nomearia Aloizio Mercadante (PT-SP) como relator do caso Renan. O problema é que Mercadante já recusou a função, alegando ser amigo de Renan e não se considerar isento o suficiente.
Já a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), negou que seu partido tenha fechado questão a favor da candidatura de Virgílio. Segundo a senadora, a prerrogativa do cargo de presidente é do PMDB:
- A regra nesta casa é de o maior partido indicar o presidente. Qualquer acordo entre Virgílio e Mercadante supõe um acordo com o PMDB - disse Ideli, acrescentando que o PMDB teria proposto a presidência para Mercadante e a relatoria para Virgílio.
- O PSDB disse não, mas a candidatura natural é do PMDB - completou.
Em resposta, Virgílio insistiu que vai disputar o cargo mesmo sem o apoio de PT e PMDB:
- Se eu ganhar, indico hoje o relator, mas primeiro tenho que ganhar - disse.
Apesar do apoio do DEM, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) demonstrou insatisfação com a candidatura do tucano. Segundo Demóstenes, a idéia inicial do partido era manter o vice-presidente do Conselho, Adelmir Santana (DEM-DF), no comando do colegiado para que ele decidisse pela devolução dos documentos para a perícia da Polícia Federal, continuando a investigação de Renan. Só então, seria tratada a nova eleição de presidente do conselho.
- Estávamos preparados para uma guerra. O nosso presidente iria assumir e devolver os documentos para a Polícia Federal. Isso era o que estava acertado. Fomos surpreendidos com a chegada do Arthur, que disse que tinha se lançado. Como podíamos negar o apoio? - disse Demóstenes, explicando que Virgílio disse que o PMDB cogitava lançar Almeida Lima (SE) na disputa.
O senador goiano levantou dúvidas ainda sobre o que estaria por trás da candidatura de Virgílio:
- Mas eu fico pensando, o Arthur Virgílio vai entrar nisso a que título? A tradição é que o presidente ficasse com o PMDB. É muito estranho. Por que o PMDB vai, nesse momento crítico, ceder a vaga para o PSDB? - questionou.
Para tornar sua candidatura possível, Virgílio, que é suplente, terá que substituir a titular do conselho Marisa Serrano (PSDB-MS). O tucano disse que está "tudo certo" para sua eleição como presidente do Conselho de Ética, que, segundo ele, deve ser feita por aclamação.
O tucano negou que o bilhete que recebeu terça-feira de Renan, em que o presidente do Senado pede que Virgílio o ajude, possa comprometer suas ações se eleito presidente do conselho.
- Me sinto isento, não é um bilhetinho que vai me fazer mudar de posição. Nem a mídia toda me pressiona. Espero que a eleição aconteça hoje. Não podemos prolongar o que já está sendo uma agonia para o Congresso Nacional - afirmou.
Renan elogiou nesta tarde a indicação de Virgilio.
- Eu não tenho discutido as decisões do conselho, mas o Arthur Virgílio é um grande nome, um grande quadro e um grande amigo. Ele tem condições de ocupar qualquer cargo - disse.
Renan elogiou também Mercadante.
- O Mercadante é um homem honrado e isento - afirmou.
PMDB lança Quintanilha à presidência
Depois de negar apoio à candidatura de Arthur Virgílio à presidência do Conselho de Ética, o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), anunciou na noite desta quarta-feira que Leomar Quintanilha (PMDB-TO) vai disputar o cargo com o tucano. A previsão dos peemedebistas é de que Quintanilha tenha nove dos 16 votos do colegiado, mas a votação é secreta e o resultado não é certo, já que pelo menos um senador da base, Eduardo Suplicy (PT-SP), não garante que vai votar no peemedebista.
- Eu quero ouvir os dois e só vou discutir em quem votar após saber quem vai garantir maior isenção, maior equilíbrio e maior disposição para investigar a fundo as denúncias - afirmou.
Raupp chegou a convidar Adelmir Santana (DEM-DF), vice-presidente do conselho, a continuar no cargo, mas não o convenceu:
- Foi feito o convite, mas não aceitei. O cargo é do PMDB. Estão querendo dar um presente de grego para mim - disse Adelmir.
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