5h15 é a diferença entre a autonomia de voo do avião presidencial informado pelo Planalto em nota (9h45) e no site da Aeronáutica (15h).
A falta de clareza do governo nas explicações sobre a escala de viagem da presidente Dilma Rousseff e comitiva em Lisboa, no último dia 25, criou um desgaste político ao longo de toda a semana passada. A passagem de 15 horas por Portugal não estava na agenda oficial e, depois de revelada, foi justificada por diferentes versões. A parada em Lisboa ocorreu durante o trajeto da Suíça, onde Dilma participou do Fórum Econômico Mundial, para Cuba, país em que inaugurou obras do porto de Mariel, financiadas com recursos brasileiros do BNDES.
Na esteira da polêmica, a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, pediu demissão na sexta-feira e será substituída pelo porta-voz da Presidência, Thomas Traumann. Segundo relato do repórter Jamil Chade, enviado do jornal O Estado de S. Paulo para acompanhar a viagem presidencial à Europa, Helena teria informado a ele que "não sabia" do jantar de Dilma no restaurante Eleven, em Lisboa. Uma foto publicada posteriormente pelo jornal português Expresso, mostrou a ministra saindo do restaurante com Dilma. Oficialmente, contudo, a demissão não estaria ligada diretamente ao caso, mas à reforma ministerial.
O Eleven está entre os três restaurantes de Lisboa a receber uma estrela no guia Michelin, principal referência da alta gastronomia mundial. Além disso, a comitiva se distribuiu por dois dos hotéis mais caros da capital portuguesa Tívoli e Ritz Four Seasons. No Ritz, as diárias variam entre 360 euros (R$ 1.177) e 8.265 euros (R$ 27.027).
Na primeira nota emitida pelo Palácio do Planalto, a justificativa foi de que "a escala técnica era obrigatória" e a que a "opção por Lisboa foi a mais adequada, já que se trata do aeroporto mais a oeste no continente europeu".
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, levantou a informação que, de acordo com informações da Força Aérea Brasileira, o avião presidencial (um Airbus A-319) teria autonomia de voo de 11,1 mil quilômetros, mas que a distância entre a Suíça e Cuba é de 8,2 mil quilômetros o que dispensaria a necessidade da escala em Lisboa.
Na nota, o Planalto informou que a autonomia da aeronave é de 9 horas e 45 minutos de voo. Já a ficha técnica do avião no site da Aeronáutica aponta uma autonomia de 15 horas. O dado, contudo, é relativo e depende do plano de voo para a viagem, que sofre influências de condições meteorológicas e de tráfego aéreo.
Última hora
Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Figueiredo, disse que a parada em Portugal havia sido decidida de última hora. Mas a versão foi contraposta por declarações do chef do Eleven, Joachim Koerper, que disse ao jornal Folha de S.Paulo que funcionários da embaixada brasileira em Lisboa fizeram uma vistoria no restaurante com um dia de antecedência ao jantar ou seja, estada em Lisboa já havia sido decidida com alguma antecedência.
Outra informação, publicada por O Estado de S. Paulo, mostrou que o embaixador responsável pelo cerimonial do governo português, Almeida Lima, havia recebido a missão de preparar a recepção da comitiva brasileira com antecedência. Reportagem do jornal O Globo citou que a decisão de passar por Lisboa teria sido tomada durante a ida para a Suíça, três dias antes da chegada a Portugal. Em seguida foi enviada à cidade uma equipe de Brasília para vistoriar os locais de passagem da presidente.
As versões conflitantes acerca da estada em Lisboa levaram o PSDB a pedir à Comissão de Ética Pública da Presidência uma investigação do caso. Mas a comissão arquivou o pedido.
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