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Marina: voto por ser mulher e negra. Devia ser pelas ideias. | JonathanCampos/Gazeta do Povo
Marina: voto por ser mulher e negra. Devia ser pelas ideias.| Foto: JonathanCampos/Gazeta do Povo

Da origem simples nos seringais do Acre até se tornar uma referência internacional na luta pela preservação do meio ambiente, a senadora licenciada e pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva, passou por uma longa trajetória. Nascida no interior do Acre, a filha de seringueiros foi alfabetizada com 16 anos e começou a militância política ao lado de Chico Mendes, lutando por melhores condições para os trabalhadores da floresta.

A morte do ativista ambiental – assassinado em dezembro de 1988 com dois tiros no peito – é considerada um trauma para a senadora licenciada. "Ela relata a situação como traumatizante, mas ao mesmo tempo é muito serena e não quer fazer disso um espetáculo", descreve o ex-vereador de Curitiba e pré-candidato do PV ao governo do estado, Paulo Salamuni.

Durante a passagem de Marina pelo Paraná na última semana, Salamuni esteve ao lado da "estrela" dos verdes. "É impressionante a história dela e a força que tem, mesmo tendo sentido na pele a falta de infraestrutura na educação, na saúde", diz.

No campo político, a história da ex-ministra começou no PT, partido do qual se desfiliou em 2009 para ingressar no PV. Antes de sair da legenda, Marina enfrentou alguns embates internos. Principalmente no período em que esteve a frente do ministério do Meio Ambiente – que comandou até 2008 e deixou por causa das discordâncias em relação à política de desenvolvimento adotada pelo governo Lula.

Agora, como pré-candidata à Presidência pelo PV, Marina Silva ajuda a montar o programa de governo do partido. O eixo estruturante das propostas é a promoção de uma economia de baixa emissão de carbono, conferindo melhoria à qualidade de vida das pessoas.

Em uma entrevista para a Gazeta do Povo, durante a passagem por Curitiba, na última quinta-feira, Marina Silva falou da importância da sua candidatura à Presidência para a discussão sobre o meio ambiente. Na avaliação dela, com a proposta do PV em jogo, os outros candidatos também terão de voltar o olhar para as questões ambientais. A pré-candidata também falou de questões mais pessoais, como a sua infância no Acre e a relação com os integrantes do PT, ex-colegas de partido.

Por dividir uma história de vida semelhante com a de Lula, devido à origem humilde, há muita comparação entre a senhora e o atual presidente. Como encara esta comparação?

Obviamente que eu me sinto honrada com esta lembrança, mas acredito que tenho de ter humildade suficiente para reconhecer que a trajetória do nosso presidente é uma trajetória que o levou do ABC [Paulista] à Presidência da República e obvimente não tenho a pretensão de me comparar a ele. Até porque, a nossa trajetória de uma origem humilde é semelhante à de outros tantos "Silvas" pelo Brasil.

A senhora acha que isso permite uma identificação com o eleitor?

Eu não quero ir por esse lado, não quero nada que possa parecer oportunismo. Eu vou falar da minha história, da minha trajetória, mas isso não significa que estou à frente ou não de outro candidato.

A senhora acredita que o brasileiro está receptivo às propostas do PV, que têm ênfase no meio ambiente?

Eu acho que a receptividade é muito grande. O importante é que as pessoas estão abertas para a necessidade da mudança. Temos de ser honestos para dizer que não existe um modelo a ser copiado, mas será uma construção a ser feita e precisa ser feita a partir de agora. O que nos incomoda é que tanto a candidatura do [José] Serra [pré-candidato tucano] quanto da ministra Dilma [Rousseff, pré-candidata do PT] são feitas com base nos paradigmas do final do século 19 e do século 20. Nós precisamos, usando os rumos positivo das conquistas destes séculos, transitar para o século 21, numa economia de baixa emissão de carbono. Esse não é um projeto nem do PV, é um movimento da sociedade brasileira. Se for só do PV, não terá como prosperar. Mas tem de ser feito por empresas, pela academia e pelos cidadãos de um modo geral.

A senhora se filiou ao PV no ano passado, depois de uma longa história no PT. Como está a relação com os integrantes do partido?

Eu tenho uma relação com as pessoas do PT de mais de 30 anos. Tenho respeito profundo por essa minha trajetória dentro do partido e pelas pessoas que eu continuo considerando como meus companheiros. Os erros cometidos por alguns não podem ser generalizados para todos, essa diferenciação tem de ser feita. Eu saí do PT pelas mesmas razões que fiquei durante 30 anos: lutei pelas causas sociais, direitos humanos e pelo desenvolvimento sustentável. Acho que nas causas sociais o PT sempre teve uma posição de vanguarda, mas nessa, que é a utopia desse século [a preservação do meio ambiente], o partido não foi capaz de acompanhar e eu saí por essa razão. Mas não tenho relação de mágoa, tenho relação de respeito. Causa-me certo estranhamento quando algumas pessoas dizem que estou fazendo jogo. Mas isso é a falta de compreensão. O meio ambiente é o próprio jogo que precisa ser jogado e todos estão convidados, inclusive o PT.

Recentemente a senhora comparou o filme Avatar com a sua infância no Acre. Qual é a relação entre a produção do cinema e a sua vida?

Eu disse que ao ver o filme recordei de várias coisas que aconteceram na minha infância e na minha juventude, quando tive uma profunda relação com a floresta. Então fiquei muito curiosa para saber como é que alguém conseguia ter uma percepção tão clara do que se sente quando se entra numa floresta. Quando eu conheci o cineasta James Came­ron, eu entendi. Ele também, quando criança e jovem, teve uma relação de muita profundidade com as florestas no Canadá. As pessoas criticam muito o filme dizendo que foi produto de alta tecnologia e que o argumento era muito pobre. Isso não é verdade. O filme é baseado na tradição das populações que se baseiam no saber narrativo. E o saber narrativo é muito mais o aspecto do sentido, do escutar e do fazer e isso o filme consegue expressar com uma tremenda competência.

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