Após deixar a Presidência, em 2010, Lula cumpriu agenda em diversos países da África e América do Sul. As viagens foram em sua maioria pagas por empreiteiras investigadas pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato – principalmente a Odebrecht, mas também a OAS e a Camargo Corrêa.
OAS e Camargo Corrêa também bancaram visitas internacionais
Entre 2011 e 2012 as empreiteiras Camargo Corrêa e OAS, também investigadas pela Operação Lava Jato, pagaram por viagens ao exterior realizadas pelo ex-presidente Lula. Em 2011, a OAS pagou por viagens do ex-presidente à Costa Rica e Bolívia. Na Bolívia, Lula chegou em um avião privado da empreiteira e o primeiro compromisso foi um encontro com o presidente Evo Morales. Na ocasião, a empreiteira tentava tocar um contrato de uma rodovia no valor de US$ 415 milhões. Apesar do contrato ter sido cancelado, a OAS ganhou
US$ 9,8 milhões como compensação.
Na Costa Rica, a empresa disputava uma obra de US$ 57 milhões. A OAS não ganhou a licitação, mas nove meses depois ganhou a concessão da rodovia mais importante do país, no valor de US$ 500 milhões.
Já a Camargo Corrêa levou o ex-presidente para a África do Sul, Moçambique, Portugal e Colômbia entre 2011 e 2013. Em Moçambique, a empresa fez obras em um projeto de exploração de carvão nas minas de Moatize, que enfrentava resistência dos moradores locais. Após a visita de Lula, a resistência enfrentada por empresas brasileiras no país diminuiu.
Apesar de as viagens não serem consideradas ilegais pelos investigadores da força tarefa da Lava Jato, levantam suspeita sobre o relacionamento do ex-presidente com as empresas denunciadas. Em alguns casos, logo após a visita de Lula, as empreiteiras conseguiram receber o pagamento de dívidas, fechar contratos e tocar obras nos países por onde ele passou.
O executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar, que se demitiu do cargo após ser preso na 14ª fase da Lava Jato, acompanhou Lula, em janeiro de 2013, em viagens a Cuba, República Dominicana e Estados Unidos. Oficialmente, as viagens não tinham relação com atividades da empresa nesses países. Lula foi a um evento da Unesco sobre o clima, visitou o presidente dominicano e falou no congresso de trabalhadores da indústria nos EUA. A viagem, que custou R$ 435 mil, foi paga pela DAG Construtora, da Bahia, uma das parceiras comerciais da Odebrecht.
A Odebrecht também pagou viagens do ex-presidente para a Guiné Equatorial, Panamá, Venezuela e Angola em 2011. Quem acompanhou Lula na viagem à Guiné Equatorial também foi Alencar, fato que causou estranheza na época ao Itamaraty, que pediu informações sobre o caso à assessoria de Lula, já que o nome não estava da lista oficial enviada ao ministério.
Em maio de 2011, o ex-presidente foi ao Panamá a convite da Odebrecht. No roteiro, estavam previstas visitas a obras da empresa com ministros e o presidente do país, Ricardo Martinelli. Lula prometeu, após um jantar, levar três pedidos a Dilma Rousseff, com quem teria encontro na mesma semana: maior presença da Petrobras no Panamá, um encontro entre os ministros dos dois países e a criação de um centro de manutenção da Embraer. A Odebrecht obteve no país contratos de US$ 3 bilhões.
Em junho e julho de 2011, Lula também viajou ao exterior com apoio da empresa. O ex-presidente viajou em jato da Odebrecht a Caracas, na Venezuela. Lá, encontrou-se com “grupo restrito de autoridades e representantes do setor privado”. Em Angola, Lula participou de um evento patrocinado pela Odebrecht no mesmo ano.
Assessoria alega que é praxe empresas pagarem viagens
Em nota, o Instituto Lula afirmou que “o ex-presidente já fez palestras para empresas nacionais e estrangeiras dos mais diversos setores –tecnologia, financeiro, autopeças, consumo, comunicações – e de diversos países como Estados Unidos, México, Suécia, Coreia do Sul, Argentina, Espanha e Itália, entre outros.” O instituto disse ainda que “é de praxe [que] as entidades promotoras se responsabilizem pelos custos de deslocamento e hospedagem.” De acordo com a assessoria do ex-presidente, Lula faz apenas palestras e não presta serviço de consultoria ou de qualquer outro tipo.
Segundo o Instituto Lula, a maioria das viagens citadas na reportagem foram para a realização de palestras do ex-presidente. Entre as viagens citadas na reportagem, apenas a visita à Guiné Equatorial, em 2011, teria sido para uma reunião de Lula com a União Africana. Segundo o Instituto Lula, as palestras geralmente têm o objetivo de estreitamento de laços entre as empresas brasileiras com os países visitados, a atração de investimentos para o Brasil e o estreitamento de laços entre países. Em nota, a Camargo Corrêa informou apenas que patrocinou palestras de Lula em Portugal em Fóruns Empresariais em Moçambique e África do Sul (novembro de 2012). A OAS não quis se manifestar sobre o assunto. A Odebrecht também foi procurada, mas até o fechamento desta edição não se manifestou sobre as viagens pagas para o ex-presidente.
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Cid confirma que Bolsonaro sabia do plano de golpe de Estado, diz advogado
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; assista ao Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Deixe sua opinião