Brasília (Folhapress) Um dia após depor à CPI dos Bingos, no Senado, o chefe de gabinete do Ministério da Fazenda, Juscelino Antônio Dourado, pediu demissão ontem. O ministro Antônio Palocci Filho aceitou a saída de um auxiliar que trabalhava com ele havia 13 anos. A saída do chefe-de-gabinete da Fazenda já estava acertada desde o início do mês, quando retornaram ao noticiário as suspeitas de que o advogado Rogério Buratti, seu amigo e padrinho de casamento, fazia tráfico de influência no ministério, o que Dourado e Palocci sempre negaram.
Palocci preferiu aguardar o depoimento de Dourado na quarta-feira à CPI dos Bingos para formalizar a demissão. O auxiliar deverá ficar no posto por mais alguns dias, até a escolha do sucessor.
Na carta em que pediu demissão, num tom elegante e que mostra intimidade com Palocci, que lhe retribui elogios em outro texto divulgado, Dourado não deixou claro os motivos de sua saída. No entanto, ele deixou a Fazenda devido às relações de "amizade", segundo ele, que disse ter mantido com o advogado Rogério Buratti no período em que comandou o gabinete do ministro da Fazenda.
A cúpula do governo considerava um risco para Palocci a continuidade de Dourado num posto tão próximo ao ministro. O próprio Dourado achou melhor sair para preservar Palocci.
Em depoimento ao Ministério Público paulista e na CPI dos Bingos, Buratti acusou Palocci de receber propina de R$ 50 mil de uma empresa no período em que foi prefeito de Ribeirão Preto pela segunda vez, o que aconteceu entre 2001 e 2002. Palocci nega.
No depoimento à CPI dos Bingos, Dourado, que integrava a administração de Palocci em Ribeirão Preto, também negou a a acusação de Buratti. Na carta de demissão, Dourado reafirma que não cometeu erros na Fazenda. "Tenho certeza da firmeza com que lidei com os assuntos de minha responsabilidade. (...) Estou com a consciência tranqüila de que realizei minha missão, de que não fugi do caminho ético que sempre norteou e norteará minha vida", afirmou Dourado em trechos da carta. Numa carta de resposta, Palocci disse: "Tenho absoluta certeza da seriedade e lisura com que você lidou com os assuntos de sua responsabilidade". O ministro afirmou respeitar a decisão de Dourado, que dissera que ter o "sentimento de dever cumprido" e que dedicou "20 anos" de sua vida "à militância política".