As gravações feitas pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Boi Barrica - com autorização judicial - revelam o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), como operador atuante nos negócios e também na política. Um dos alvos preferidos dele, revelam os diálogos, é o setor elétrico - nos telefonemas, interlocutores como o diretor da Eletrobrás, Astrogildo Quental, e o assessor do ministro Edison Lobão (Minas e Energia) Antonio Carlos Lima, o "Pipoca".
Responsável pelo dia a dia das empresas do clã Sarney no Maranhão, Fernando, avesso aos holofotes e único dos três filhos de Marly e José Sarney a não entrar oficialmente para o mundo da política, se mostra um eficiente articulador, sempre preocupado com dinheiro e com os interesses da família no setor público. Apontado pela PF como chefe de uma organização criminosa com tentáculos sobre órgãos do governo federal comandados por apadrinhados do pai, Fernando esbanja poder. Nas gravações, ele é personagem de muitas conversas cifradas, pontuadas por suspeitas.
Num diálogo gravado em 26 de março de 2008, por exemplo, Fernando e o irmão deputado Zequinha Sarney (PV-MA) falam sobre uma transação pendente no Maranhão. "Aquele assunto, Fernando, lá do Maranhão, é 900 mil, não tem nada de 5 milhões, não", diz Zequinha. "O negócio é quente", afirma. "Então é tudo procedimento. Procede tudo, né?", pergunta Fernando. O deputado responde: "Procede, mas não da maneira que tu falaste. Não era assim também não. Era nota fria." Com o irmão, a quem chama de Zecão, Fernando também falava frequentemente sobre pesquisas eleitorais e a cobertura política dos veículos da família, no Maranhão.
Os contatos de Fernando, que por dia costumava atender e efetuar uma média de 150 chamadas em seu celular, se concentram entre o Maranhão e Brasília. Há dezenas de ligações, por exemplo, para Astrogildo Quental - até hoje diretor financeiro da Eletrobrás, por indicação de Sarney. Nas conversas com Astrogildo, seu colega de faculdade, Fernando fala pouco. No máximo, sobre indicações para postos na estatal. A dupla Fernando-Astrogildo prefere conversar pessoalmente. Há várias ligações para marcar reuniões
Fernando funcionaria como uma central de solução de problemas de todo tipo. Pelas gravações, ele também costuma ser acionado com frequência pelos auxiliares de seu pai no Senado. Procurado, o empresário não atendeu às ligações ontem. Em nota, seu advogado, Eduardo Ferrão, reagiu à divulgação das gravações feitas pela PF. A nota diz que as conversas são "estritamente privadas, sem qualquer conotação de ilicitudes".
As conversas publicadas nesta quarta-feira (22) pelo jornal O Estado de São Paulo revelaram a mobilização da família para empregar no Senado o namorado de uma neta de Sarney. A nomeação saiu via ato secreto. O próprio Sarney foi gravado pela PF. Os diálogos revelaram sua relação com o ex-diretor do Senado Agaciel Maia nos favores a parentes e agregados, algo que o senador vinha negando. "Trata-se da divulgação mutilada de trechos de longas conversas telefônicas mantidas entre familiares", escreveu o advogado de Fernando. O jornal informou que publicou as gravações na íntegra, sem nenhuma alteração.
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