A zona de conforto do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está ameaçada. Além da divulgação de conversas gravadas pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, que levantaram suspeitas sobre possíveis interferências do senador nos rumos da Operação Lava Jato, há a possibilidade de que as delações em negociação com executivos da Odebrecht e da OAS comprovem o envolvimento de Renan em esquemas de corrupção.
Segundo reportagem publicada pelo jornal Valor, o Ministério Público Federal (MPF) estaria estudando a possibilidade de pedir o afastamento do alagoano da presidência do Senado. O argumento é que Renan estaria utilizando o cargo para obstruir a Justiça.
Em uma das conversas gravadas por Machado, o presidente do Senado sugere mudanças na legislação, para impedir a delação premiada de quem já está preso. “Só pode fazer delação... Só pode solto, não pode preso. Isso é uma maneira e toda a sociedade compreende que isso é uma tortura”, disse ele. Renan também diz que tentou barrar a recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O Valor também cita o conteúdo da delação de Machado e do filho dele, Expedito Machado Neto, como fatores que justificariam o pedido de afastamento. Neste caso, o pedido do MPF seria semelhante ao que foi proposto contra Eduardo Cunha, afastado da presidência da Câmara dos Deputados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Há, porém, muitas diferenças entre o caso de Cunha e o de Renan. O deputado federal é alvo de um pedido de cassação que tramita no Conselho de Ética da Câmara desde outubro de 2015 – o mais longo da história. O presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA), entregou nesta quarta-feira (01) a Janot um relatório com uma série de manobras de Cunha que afetaram a tramitação do processo de cassação. Renan não sofre nenhum tipo de investigação semelhante.
Empreiteiras
O golpe mais duro contra Renan – e muitos outros políticos – deve vir das delações premiadas que estão sendo negociadas pelo presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e por Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS. Os dois assinaram termos de confidencialidade com a força-tarefa da Lava Jato, primeiro passo para a formalização do acordo.
Léo Pinheiro teria negociado com Renan Calheiros a votação de projetos de interesse da empreiteira no Congresso. Em 2014, a OAS fez doações ao diretório estadual do PMDB em Alagoas, que repassou R$ 1,9 milhão para a campanha de Renan Calheiros Filho, eleito governador.
A Odebrecht fez o mesmo, e doou R$ 829 milhões a Renan Filho, conforme a prestação de contas disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há outros elementos envolvendo a empresa e o senador Renan Calheiros que precisam ser elucidados, como a planilha apreendida durante a 26ª fase da Lava Jato. No material, que constam o nome de 300 políticos de todo o Brasil, ao lado de valores em dinheiro, Renan aparece com o codinome “Atleta”. Ele aparece em tabelas que supostamente fariam menção a “parceiros históricos”.
Por enquanto, Renan ainda é tido como um parceiro importante em meio à turbulência política desencadeada pelo andamento do processo de impeachment de Dilma Rousseff e o afastamento de Eduardo Cunha. Na gestão interina de Michel Temer, Renan continua dando as cartas, mesmo após a divulgação das gravações de Sérgio Machado. Ele deu o aval para a nomeação de Torquato Jardim como ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, em substituição a Fabiano Silveira, que caiu após divulgação de áudios feitos por Machado.
Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.
Eu tentei… Mas eu estava só.
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