Relatório secreto da Presidência da República acusa um alto escalão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de usar, com autorização da cúpula do órgão, verba sigilosa para contratar a empresa de sua própria mulher. A auditoria diz que a empresa e as notas fiscais apresentadas para comprovar os serviços seriam "fictícias".
Segundo o documento, a empresa apesar de ter sido usada para aluguel de carros, emissão de passagens e deslocamentos de agentes é na verdade uma loja de souvenirs em Brasília.
De 2006 a 2011, a Razen Turismo e Locadora de Veículos Ltda., registrada em nome de Iolanda Ferreira Guimarães e Johnatan Razen Ferreira Guimarães, esposa e filho de José Ribamar Reis Guimarães, então coordenador-geral de operações de contrainteligência da Abin, recebeu R$ 134.577 dos cofres públicos sem que tenha comprovado despesas.
Cartão corporativo
Os pagamentos foram feitos por meio dos cartões corporativos sigilosos da agência. Somente no governo Dilma Rousseff as verbas secretas da Abin chegaram a R$ 24,4 milhões. O relatório diz ainda que a prática foi adotada nos jogos Pan-Americanos de 2007 e cobra novas investigações.
Segundo a Abin, a contratação da empresa estava prevista no Plano de Operações 01/2006, que tinha como objetivo a Operação Milhagem, montada para "acompanhar e eventualmente neutralizar a ação de estrangeiros suspeitos de prática de ações adversas à segurança da sociedade e do Estado, inclusive espionagem". A operação previa ações em Brasília e São Luis (MA), incluindo o disfarce dos agentes que se passariam por operadores de viagens e guias turísticos.
Outro lado
Por telefone, Ribamar informou que seguiu o manual de contratação da Abin e que o assunto está sendo tratado no âmbito da direção-geral da agência. "É fantasioso", disse sobre o relatório. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a quem a Abin é vinculada, informou que o procedimento administrativo disciplinar encontra-se em vias de instalação para apuração dos fatos. Segundo o GSI, o servidor continua exercendo suas atividades e não figura como acusado, pois os fatos ainda serão apurados.
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