Criado pelo governo federal em 2011 para acelerar a conclusão das obras públicas, o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) frequentemente apresenta os mesmos problemas que se propôs a corrigir em relação à Lei de Licitações (8.666/93). Auditoria do Ministério da Transparência − antiga Controladoria-Geral da União (CGU) – aponta que boa parte das concorrências no RDC não tem interessados, precisa ser repetida e, consequentemente, provoca atraso no início das obras. Além disso, em muitos casos o desconto oferecido pelas empresas é menor que 1% e várias delas recebem aditivos durante a execução dos trabalhos.
No estudo, a CGU analisou 155 editais lançados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) na modalidade RDC entre 2012 e 2014. Desse total, no entanto, 65 licitações foram perdidas – revogadas, anuladas ou sem interessados. “Ou seja, 42% não chegaram a bom termo e tiveram que ser repetidos, causando um atraso no início das obras”, afirma a auditoria.
Entenda a diferença entre RDC e a lei geral de licitações
Outra ressalva diz respeito ao fato de o RDC permitir que a mesma empresa responsável pelas obras desenvolva tanto o projeto básico quanto o executivo de engenharia. “Há que se observar que a fase de elaboração e aprovação do projeto na autarquia tem sido um ‘gargalo’, levando, inclusive, tempo maior que a licitação. Não raro, ocorre o descumprimento do prazo previsto nos editais/contratos para apresentação e aprovação do projeto.”
A CGU destaca também que o término da licitação se dá apenas com o recebimento definitivo da obra. Portanto, como o número de trabalhos já finalizados sob o modelo RDC ainda é pequeno, não é possível chegar a uma conclusão sobre a efetiva redução de prazos do novo regime jurídico.
Economia?
Maior usuário do RDC na União até aqui, o Dnit previa desembolsar R$ 12,4 bilhões nas obras analisadas pela CGU. Segundo a auditoria, porém, 28 das 90 licitações homologadas tiveram desconto inferior a 1% em relação ao orçamento-base previsto no edital. O motivo de um índice tão baixo estaria no fato de que o valor máximo da obra só precisa ser revelado após o término da licitação. Com isso, nos casos em que as propostas apresentadas estejam acima do preço de referência, é permitido ao poder público negociar diretamente com as empresas para que o certame não fracasse.
A CGU ainda aponta que o RDC reduziu, mas não eliminou os aditivos que aumentam o valor original das obras. “Observou-se a ocorrência de aditivos em 40% das obras já concluídas e em 31% das obras em andamento. Por fim, cabe destacar que o número de aditivos tende a aumentar, pois as obras maiores e mais complexas ainda estão em execução, como também pelos recentes contingenciamentos de recursos, que irão contaminar os dados com excesso de prorrogações”, alerta o relatório.
Para a CGU, o RDC nas obras analisadas apresentou um número menor de participantes na comparação com as licitações regidas pela Lei 8.666. Apesar de a concorrência média ter sido de 4,93 empresas por edital, o número seria superestimado, uma vez que muitas delas não teriam real interesse em vencer o certame. “Tal constatação se deve a diversas evidências: não possuírem condições de executar as obras para as quais apresentam lances; estarem impedidas de contratar, justamente por não terem assinado contrato em licitação anteriormente vencida; apresentarem lances pouco razoáveis.”
Formato eletrônico
No relatório, a CGU diz ser “inegável” que entre os impactos positivos do RDC está a redução no prazo das licitações. Nos editais analisados do Dnit, por exemplo, o prazo médio entre o lançamento e a homologação dos certames foi de 137 dias contra 174 dias da Lei 8.666. A auditoria alerta, porém, para a necessidade de realizar o RDC preferencialmente na forma eletrônica, “pois em tal formato tem-se observado uma maior concorrência e, por conseguinte, maiores descontos, além de propiciar maior transparência dos procedimentos”.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião