Indícios
Vejam quais são as suspeitas envolvendo a Refinaria Abreu e Lima:
Lucro acima do esperado: a previsão de lucro de um dos consórcios em um contrato de R$ 651,7 milhões é de 12%. Segundo os auditores, a média de mercado é de 7%, e 60% das 14 maiores empreiteiras praticam taxa inferior a 6%.
Concorrência com um participante: a Petrobras realizou uma licitação com modalidade de convite para a qual chamou 16 empresas. Apenas uma, porém, apresentou proposta e foi contratada. A auditoria observa que os órgãos de controle exigem pelo menos três propostas.
Empresa sem qualificação: uma empreiteira que não cumpria os requisitos mínimos à licitação foi aceita pela Petrobras e venceu o certame.
Adiantamentos e desembolsos a mais: a auditoria relata repasses de recursos às empresas contratadas antes da prestação de serviços e sem atualização dos valores nos pagamentos, além de reajustes inadequados, que levaram a desembolsos a mais.
Multas não cobradas: a auditoria questiona o fato de a Petrobras ter deixado de cobrar multas previstas em contrato, de até 10% do total, por atrasos na obra e desmobilização de mão de obra.
Auditorias internas da Petrobras revelam que a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, contou com projeções de lucro acima do mercado, favorecimento em licitações, contratações sem concorrência e sem disputa e pagamentos a mais a empreiteiras. Os relatórios foram elaborados entre 2011 e 2014 e detalham supostas irregularidades num empreendimento cujo orçamento saltou de US$ 2,3 bilhões para mais de US$ 20 bilhões, valor do gasto total estimado até novembro deste ano, data prevista para o início do funcionamento da refinaria. O superfaturamento em Abreu e Lima, segundo as estimativas mais recentes do Tribunal de Contas da União (TCU), ultrapassa R$ 1,1 bilhão.
Um relatório de sete páginas, elaborado por três auditores da Petrobras, apontou um lucro indevido projetado pelo Consórcio Alusa-CBM, responsável por um contrato de R$ 651,7 milhões. Para implantar a unidade da carteira de enxofre da refinaria, o consórcio estimou um lucro de 12%, inclusive para a elaboração do projeto, delegada a outra empresa. Os auditores compararam, então, esses ganhos com o ranking das 14 maiores construtoras, cuja margem média de lucro era de 7%, sendo que 60% dessas empresas apresentaram porcentuais inferiores ou iguais a 6%.
A unidade da Petrobras responsável justificou que as propostas se referem a contratos por preço global e não poderiam ser analisadas pontualmente. Os auditores discordaram: "O fato de o contrato ser por preço global não impede a análise da composição de seu valor, ainda na licitação, visando à negociação de condições mais vantajosas para a Petrobras, inclusive com possível enquadramento de suas parcelas ao praticado no mercado". Não há informação se os lucros exacerbados foram pagos.
Outro contrato
Outra equipe de três auditores lançou suspeita sobre um segundo contrato com a Alusa. A empresa foi contratada por R$ 921 milhões para realizar do projeto executivo da casa de força da refinaria. A Alusa, porém, não atendia aos requisitos expressos no edital de licitação. Na ocasião, em 2008, foram encaminhados convites a 12 empresas. A empreiteira só conseguiu participar após enviar e-mail a um gerente da área de engenharia demonstrando interesse em disputar. A Petrobras justificou a inclusão como uma forma de aumentar a concorrência.
Os auditores da Petrobras não se deram por satisfeitos. O relatório destacou que 12 concorrentes já participavam e que a flexibilização dos critérios deveria ter sido estendida a outras empresas. A Petrobras e a Alusa não deram retorno aos questionamentos da reportagem.
Deixe sua opinião