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Alfredo Nascimento: denúncias provocaram a renúncia do hoje senador pelo PR-AM do comando do Ministério dos Transportes | José Cruz/ABr
Alfredo Nascimento: denúncias provocaram a renúncia do hoje senador pelo PR-AM do comando do Ministério dos Transportes| Foto: José Cruz/ABr

Outro lado

Para o PR, auditoria foi inconclusiva

A cúpula do PR avaliou ontem que a auditoria feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) na área dos transportes foi "inconclusiva" e pode até mesmo atrapalhar as negociações para o retorno do partido à base aliada, caso o governo federal não faça um gesto político, inocentando seus dirigentes. Dois meses após ser defenestrado do comando do Ministério dos Transportes, no rastro do escândalo de corrupção, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) deu a senha da reação do partido ao observar que a sindicância não indica os responsáveis pelos malfeitos.

Embora o relatório da CGU tenha constatado 66 irregularidades em processos de licitação e contratos, apontando prejuízo de R$ 682 milhões, Nascimento disse, em nota à imprensa, continuar aguardando que as "suspeitas" veiculadas pela imprensa sejam esclarecidas "de modo cabal" pelos órgãos de investigação. Presidente do PR, o senador destacou que a auditoria não esclarece o "suposto envolvimento" de integrantes da equipe liderada por ele nos Transportes na prática de irregularidades.

"Nós esperávamos que essa celeuma tivesse um ponto final com essa sindicância da CGU porque, afinal de contas, pessoas foram afastadas e caiu um ministério inteiro", afirmou o senador Blairo Maggi (PR-MT).

Na próxima semana, a cúpula do PR vai se reunir para decidir se é conveniente voltar ou não para a base de sustentação do Planalto. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, os ministros Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) têm conversado com dirigentes e parlamentares do PR e pedido que o partido retorne para a coalizão. O PR, porém, está dividido, apesar de não ter devolvido os cargos.

Agência Estado

A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou que as irregularidades no Ministério dos Trans­portes, que resultaram em uma faxina na pasta e no pedido de demissão do ex-ministro Alfredo Nascimento, totalizaram um prejuízo potencial de R$ 682 mi­­lhões, em um total de R$ 5,1 bi­­lhões fiscalizados. O trabalho foi concluído ontem. Ao todo, foram 66 irregularidades em 17 processos analisados.

Segundo a CGU, já estão em curso sete processos administrativos disciplinares, uma sindicância patrimonial e uma sindicância Investigativa, envolvendo mais de 30 servidores e ex-di­­rigentes do Departamento Na­­cio­­­­nal de Infraestrutura de Trans­­­­­­portes (Dnit), da Valec (es­­tatal de ferrovias) e do Ministério dos Transportes.

O relatório afirma que, tanto no Dnit quanto na Valec, "raríssimos são os empreendimentos em que não há acréscimos de custos, muitos dos quais se aproximam do limite legal, algumas vezes até superando-os, tornando sem efeito os descontos obtidos nos processos licitatórios". O relatório da controladoria exibe uma tabela com 13 empreendimentos que receberam aditivos contratuais. Três deles excederam o limite legal (de 25%) e em um dos casos o custo aumentou 73,7%.

O maior número de irregularidades foi constatado no lote 7 da BR-101, em Pernambuco. "Ali se constataram fortes indícios de 14 diferentes tipos de irregularidades, tendo os prejuízos alcançado cerca de R$ 53,8 milhões, decorrentes, principalmente, de defi­ciên­cias no projeto executivo, serviços de terraplenagem superestimados, superfaturamento, pagamento por serviços não realizados, além de execução de serviços sem cobertura contratual", afirma a CGU. O valor total da obra, com os aditivos e reajustes decorrentes de prorrogações de prazo, foi de R$ 356 milhões.

Quanto aos casos investigados, a CGU informa que não foram incluídos apenas aqueles que foram denunciados pela imprensa, mas também outros fatos. "Com isso, foram ultimadas e incluídas no relatório as análises de casos considerados em­­blemáticos e representativos dos principais tipos de problemas que a CGU encontra frequentemente nas auditorias de obras públicas, sobretudo do Dnit", destaca a nota da CGU.

Segundo a controladoria, além do problema da má qualidade dos projetos, há, no Dnit, um grande número de projetos antigos em estoque, que acabam sendo licitados já defasados em relação ao volume médio diário de tráfego, ao nível de serviço, às localizações de jazidas e às necessidades de desapropriações. Esses problemas, destaca a controladoria, provocam a necessidade de aditivos contratuais, pois são ne­­cessárias revisões de projeto em fase de obra.

Ontem à tarde, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, esteve reunido com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Ao sair da reunião e ser questionado pela imprensa sobre o relatório, Passos não quis comentar o assunto.

Crise

A crise que atingiu o Ministério dos Transportes provocou uma espécie de "faxina" na pasta, com o afastamento de boa parte da cúpula do Dnit e da Vale. Mais de 30 pessoas ligadas à pasta foram exoneradas ou afastadas.

As denúncias provocaram a renúncia de Alfredo Nascimen­to (PR-AM) do comando da pasta e o afastamento de diretores e funcionários que também estariam envolvidos nas irregularidades.

Reportagem da revista Ve­­ja revelou um suposto esquema de cobrança de propinas em obras federais e mencionou o nome de quatro pessoas, in­­cluindo dois assessores diretos do então ministro dos Transportes.

O então diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, e o en­­tão diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves, também foram citados.

Interatividade

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