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Janene evita a imprensa ao deixar o MP em Londrina, em 2008: ponto alto da carreira foi a liderança do PP na Câmara. | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
Janene evita a imprensa ao deixar o MP em Londrina, em 2008: ponto alto da carreira foi a liderança do PP na Câmara.| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

O Janene era um cara que cumpria as promessas. Se ele falava, podia esperar que chegava. Ele era muito trabalhador. Brigava pelos prefeitos dele. E era campeão de verbas para atender às prefeituras.”

Ex-funcionário de Janene,que pediu para não ser identificado.

OUTRO LADO

Todas as pessoas citadas na reportagem foram procuradas pela Gazeta do Povo. Alguns não foram encontrados e outros não quiseram comentar o relacionamento que mantinham com o ex-deputado federal José Janene nem as informações prestadas pelas fontes ouvidas pela Gazeta do Povo.

A ascensão política – e econômica – de José Janene começou a se desenhar na eleição de 1998, quando ele conseguiu mais que dobrar a quantidade de votos do primeiro pleito – atingindo o segundo lugar em número de eleitores do Paraná na disputa pelo cargo de deputado federal. Segundo uma fonte ligada ao político, para isso, ele conquistou o apoio da maioria dos prefeitos de cidades pequenas na Região Norte, levando recursos de emendas parlamentares e praticando o assistencialismo. “Além, é claro, de ‘derramar’ muito dinheiro na campanha”, diz.

“O Janene era um cara que cumpria as promessas. Se ele falava, podia esperar que chegava. Ele era muito trabalhador. Brigava pelos prefeitos dele. E era campeão de verbas para atender às prefeituras”, conta um ex-funcionário. Mesmo sem nunca ter se candidatado a um cargo do Executivo e nem ao menos ter tido uma votação expressiva em Londrina, Janene influenciou todas as eleições municipais – e estaduais – seguintes. Talvez por isso, fontes apontam que, na época, o aval do político era fundamental para qualquer nomeação de primeiro escalão.

Aliança com Youssef

Não é possível dizer com precisão como e quando o doleiro Alberto Youssef e o deputado José Janene iniciaram a aliança que se manteve até a morte do parlamentar. Mas, como conta Stael Fernanda, ex-mulher de Janene, o doleiro passou a frequentar a casa da família a partir de 2004.

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A influência logo se estendeu para o Congresso Nacional. Depois da eleição para o terceiro mandato, em 2002, Janene foi alçado ao cargo de líder do PP na Câmara dos Deputados. “Ele não queria exposição. Relutou muito para ser líder do partido. A vida dele era bastidor”, conta uma fonte. “Foi uma fase em que a minha casa vivia cheia de ministros e políticos”, revela Stael Fernanda, com quem Janene foi casado. Investigações da Operação Lava Jato apontam que Janene teria indicado Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras nessa época, em 2004. “Ele não tinha poder para tanto”, rebate a ex-esposa.

Líder do PP, Janene se tornou pivô do mensalão

Mesmo relutante, como líder do PP na Câmara, José Janene acabou se transformando no pivô de um dos maiores esquemas de corrupção do país: o mensalão. “Quando vi as primeiras notícias do escândalo, ele falou pra mim: ‘Isso vai dar muito pano pra manga’”, conta a ex-esposa do parlamentar, Stael Fernanda. E deu: Janene foi apontado como o destinatário de R$ 4,1 milhões do valerioduto. “Até acredito que ele pegou esse dinheiro, mas não levou”, diz a mulher. Mesmo figurando entre os réus do processo no Supremo Tribunal Federal, o político foi absolvido por seus colegas da Câmara em uma sessão esvaziada – 147 dos 513 deputados faltaram.

O líder do PP, porém, nem acompanhou a análise da cassação. Já estava em licença médica convertida, no fim de 2006, em aposentadoria por invalidez de R$ 12,8 mil. Janene sofria de problemas cardíacos. O plano sempre foi voltar para a política, o que nunca ocorreu. O vácuo acabou preenchido por um político com votações inexpressivas na região até então: André Vargas, à época no PT. “Como foi o André, poderia ter sido qualquer outro [que herdou o capital político de Janene]”, diz um político londrinense.

Segundo fontes, Janene não preparou Vargas como sucessor, apenas “deixou ele trabalhar”. Nas eleições de 2006, o ex-petista fez 83,2 mil votos. Já em 2010 – um mês depois da morte de Janene–, Vargas foi reeleito como o 3.º deputado federal mais votado do Paraná, com 152 mil votos. “O André tentou ser o Janene, mas deu muito errado”, diz um ex-funcionário do ex-parlamentar do PP. Depois das denúncias de envolvimento com Alberto Youssef, Vargas teve o mandato cassado pela Câmara em 2014.

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