Uma das testemunhas-chave da Operação Quadro Negro afirmou em depoimento ao Ministério Público (MP) que R$ 13 milhões de dinheiro público teriam sido usados para pagamento de propinas e para distribuição de dinheiro a autoridades. O dinheiro teria sido desviado de obras em escolas públicas em um esquema que envolveu a contratação da construtora Valor pela Secretaria Estadual da Educação. Os contratos da Valor com o poder público estadual somam quase R$ 20 milhões.
Dinheiro em caixas de vinho
O resultado de um dos maiores saques em dinheiro vivo da conta da construtora Valor foi distribuído em caixas de vinho, segundo depoimento ao MP de Vanessa Domingues de Oliveira, atual proprietária da empresa. Vanessa, que diz ser “laranja” de Eduardo Lopes de Souza, conta que no final de 2012 fez um saque de R$ 800 mil em notas de R$ 100. O filho de Eduardo levou caixas de vinho compradas de uma importadora da família. Segundo Vanessa, os valores teriam sido distribuídos em uma caixa com garrafas de vinho e em cinco ou seis caixas vazias. Ela diz não saber para quem ou para onde as caixas foram enviadas.
Em depoimento ao Gaeco, braço do MP, Vanessa Domingues de Oliveira, que no papel é a proprietária da Valor, diz que sabe da existência de um documento em que o verdadeiro dono da empresa teria feito um “balanço” do dinheiro entregue a políticos e autoridades ao longo da operação da empresa. A carta teria sido ditada à advogada da empresa, Úrsulla Andrea Ramos.
Vanessa, que diz ser testa de ferro de Eduardo Lopes de Souza na Valor, afirmou ao Gaeco que fazia saques regulares da conta da empresa em valores altos, de até R$ 800 mil. O dinheiro, sempre em notas de R$ 100, era entregue em malas no estacionamento do Banco do Brasil para Eduardo. O dinheiro, segundo depoimento de Úrsulla, era sacado para ser “redestinado” a autoridades. Segundo Vanessa, a propina era entregue na expectativa de que a empresa conseguisse vencer novas licitações.
A carta detalhando os valores teria sido escrita por Eduardo, segundo Vanessa, porque ele temia que algo acontecesse com ele. Nesse caso, haveria um documento escrito revelando tudo o que havia sido feito e quem teria sido beneficiado. Segundo o MP, o documento não foi até agora encontrado nos computadores apreendidos pela operação. A cópia em papel teria sido entregue ao próprio Eduardo. Úrsulla e outra funcionária da empresa que prestou depoimento, Tatiane de Souza, dizem que a carta, na verdade, era apenas um pedaço de papel com nomes dos beneficiários escritos à mão.
Vanessa afirma que era funcionária da empresa, com salário de aproximadamente R$ 3,2 mil. Em 2014, teve uma proposta para assumir a propriedade da empresa, assinando os documentos. Em troca, receberia mais R$ 1 mil por mês. Ela diz que, como sócia, participava apenas dos saques, mas não acompanhava a entrega do dinheiro.
No entanto, Eduardo teria revelado tanto a ela quanto a Úrsulla que entre os beneficiados estavam os deputados Ademar Traiano (PSDB), Plauto Miró (DEM) e Tiago Amaral (PSB), o conselheiro do Tribunal de Contas Durval Amaral e o secretário estadual de Infraestrutura, Pepe Richa, além do ex-vereador Juliano Borghetti (PP). A advogada diz que parte do dinheiro também teria ido para a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB). Todos os citados negam as acusações.
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