O sargento Wellington Rodrigues, controlador de vôo do Cindacta-1 de Brasília, disse nesta terça-feira (22) à CPI do Apagão Aéreo que dois aviões de grande porte quase se chocaram no ar recentemente na região próxima da capital federal.
"Só não tenho com maior precisão o tipo de aeronave. Se era um airbus ou boeing. Mas aconteceu há 15 dias. A informação que tive é que passaram bem próximas uma da outra", afirmou.
Rodrigues revelou isso ao ser perguntado pelo deputado Vic Pires (DEM-PA) se houve algum risco de choque entre dois aviões nos últimos dias. O controlador não quis dar mais detalhes e pediu para a CPI solicitar informações à Força Aérea Brasileira (FAB).
O sargento é presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (que não tem papel de sindicato, proibido no setor militar) e o primeiro controlador do Cindacta-1 a depor na CPI.
Aos parlamentares, ele apontou vários problemas técnicos do sistema aéreo que, segundo ele, ocorrem diariamente no setor. E afirmou que, em nenhum momento, houve sabotagem dos controladores nos últimos meses.
"Nós não somos sabotadores, terroristas, não somos panos de chão. Somos homens honrados", disse. "Diariamente temos problemas de comunicação", ressaltou, ao falar sobre as falhas do sistema.
"Fomos chamados de tudo o que é nome e não tivemos direito de resposta. Estou falando em nome de todos os controladores que confiam em mim", afirmou.
"Os militares ganham muito mal. Todos os militares ganham muito mal. A questão é estrutural. É segurança de vôo", disse. "Vamos processar quem nos chamou de sabotadores", ressaltou, chegando a se emocionar em alguns momentos.
Desmilitarização e falhas no sistema
Rodrigues defendeu ainda a desmilitarização do controle aéreo. Disse que é "incompatível" a gestão militar na área. "O controle tem que ter uma gestão diferenciada. Não pode ficar sob convenção do militarismo", disse.
O Cindacta-1 é o centro de controle aéreo que abrange a região de maior fluxo de aeronaves do país, no Sudeste e parte do Centro-Oeste. O órgão era responsável pela viagem do jato Legacy que se chocou com um avião da Gol no ano passado, matando 154 pessoas. Na semana passada, os deputados estiveram no Cindacta, mas não puderam ter acesso aos controladores.
Com a farda da Aeronáutica, Rodrigues enumerou uma série de problemas que ocorrem no sistema aéreo. "Não posso calar-me, nem omitir-me sob peso de no futuro responder por um acidente aeronáutico", disse. Na sala da CPI, colegas de Rodrigues compareceram para apoiá-lo, a maioria com uniforme da Aeronáutica. Alguns chegaram a chorar durante o depoimento.
De acordo com Rodrigues, o principal fator do acidente do avião da Gol foi a falta de visualização do radar da região da Serra do Cachimbo. Segundo ele, a responsabilidade do controle do local era do Cindacta-1, mas o sinal era emitido pela torre de Manaus, o que, explicou, impedia a visualização da região por Brasília.
"Esse é o problema de superposição de responsabilidades: quem vê não controla, quem controla, não vê", disse.
O presidente da associação contou ainda que, após o acidente, a Aeronáutica tentou consertar o problema, mas ainda não o solucionou completamente em outras regiões. "Há ainda deficiências, duplicação de pistas", disse.
Além das dificuldades com radar e duplicação de pistas, o controlador disse que o setor enfrenta problemas de comunicação com os aviões e queda do sistema de controle das altitudes das aeronaves.
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