Avô conta o drama de ver a neta morrer em seu colo

Há quatro anos, o comerciante e metalúrgico aposentado J.S., de 55 anos, chorava a perda de Milena, de sete meses, sua primeira neta, vítima de meningite. Alagoano, J. achava que não merecia o sofrimento. Mas um assaltante não o poupou do novo martírio, no domingo passado. Foi no colo do avô que Vitória Gabrielly Silva de Carvalho, de 3, foi baleada, dentro de casa, durante tentativa de roubo, em Mauá, no ABC.

A bala varou uma porta de vidro, atravessou o coração dela, e parou na parede da sala. Ali, o metalúrgico perdia a segunda neta.

-Ela adorava ficar no meu colo e praticamente morreu nele", disse J., que há quatro anos montou uma pizzaria.

O fato de ter um comércio no pobre Jardim Salgueiro tornou o aposentado alvo de ladrões, que o assaltaram uma semana antes da tragédia. Com medo, ele não registrou BO.

Como foi na hora do crime?

J — Meu filho voltava da casa da namorada, era 0h10. Eu estava com a minha filha, que tem outro nenê. Meu filho chegou e eu o ouvi, da cozinha. Viemos eu com a Victoria no colo e minha filha com o N., de 9 meses. Abri a porta, meu filho entrou rápido, percebeu que tinha alguém chegando, e se jogou aqui (na sala). Eu, com a menina no colo, abri a porta para ele entrar. Na hora que eu fechei, só foi a bala, que pegou minha menininha. Eu nem sabia que tinha atingido ela. Quando eu passei a mão aqui (no peito) em mim, era muito sangue. Fiquei louco. alei para meu filho: ‘P., a Victoria foi atingida, socorre ela, pelo amor de Deus.’ Ele pegou ela, colocou no carro, junto com a mãe dela, arrebentou o portão e levou a menina ao PS.

Ela estava lúcida?

Ela dizia: 'vô, o que foi? Tá doendo, vô'.Fiquei na cozinha, deitado com ela. Ela parecia desmaiar. Aí, foi para o hospital. Eu fiquei aqui, gritando e chorando de desespero.

O senhor não se feriu?

Quando o tiro bateu, ela gritou. Só acertou ela. O rosto dela ficou todo machucado do vidro que estourou.

O senhor foi assaltado uma semana antes?

Foi. Mas a gente não quis fazer B.O. para não ter problemas. Pensei: se eu fizer ocorrência eles vão ficar com raiva e virão aqui. Não adiantou. No assalto, eles levaram tudo que pediram. Estávamos eu e a minha mulher vindo da pizzaria. Deitaram a gente aqui e levaram tudo (R$ 1.040 e uma bolsa). Eles disseram: 'não vamos mexer com ninguém'. Domingo acontece isso.

Esse foi o primeiro assalto que sofreram?

Em 16 anos que moramos aqui, sempre dormimos tranqüilos.

Como era sua neta?

(Chora) Era minha vida, só ficava no meu colo. Dizia: 'Vô, deixe eu ficar no seu colo, eu gosto do seu colo'. E ela morreu praticamente no meu colo. Só não foi porque levamos ela para o hospital.

Do que ela mais gostava?

Ficava comigo vendo televisão. Se vestia, me mostrava a roupa e perguntava: 'vô, estou bonita?'

No domingo, o sr. não viu o rosto dos criminosos?

Não vi. Porque estava aqui dentro. Só escutei falar: 'hei, rapaz', e veio o tiro. Não sei como eu não fui atingido.