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| Foto: Reynaldo Stavale/Gazeta

Mudança

Troca-troca entre Legislativo e Executivo não incomoda envolvidos

Parlamentares titulares que se licenciaram e suplentes que ficaram com as vagas veem com naturalidade as mudanças na bancada paranaense. O secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Júnior, diz que não recebeu cobranças dos 358.924 eleitores que o elegeram deputado federal em 2010 – ano em que o partido dele, o PSC, apoiou Osmar Dias (PDT) contra Beto Richa (PSDB) na disputa pelo governo do estado.

"Eu tenho tido só elogios", cita. Segundo ele, os eleitores compreendem que é um desafio "muito maior" cuidar do desenvolvimento urbano. Em 2011, Ratinho ocupou a liderança do PSC na Câmara. A legenda têm 16 deputados – dentre eles o atual presidente da Comissão de Direitos Humanos, Marco Feliciano (SP), envolvido em acusações de homofobia e racismo.

Suplente da ministra Gleisi Hoffmann (PT) no Senado, Sérgio Souza (PMDB) repete que o Executivo é visto como "algo maior", tanto pela população quanto pelos políticos. "Ocupar um ministério, uma secretaria, aparece como uma oportunidade de fazer mais pela população. E o eleitor quer um representante que seja capaz de fazer mais coisas por ele", defende.

Substituto de Reinhold Stephanes (PSD) na Câmara, Marcelo Almeida (PMDB) assumiu neste ano a coordenação da bancada do Paraná no Congresso. Para ele, Beto Richa escolheu deputados federais para ocupar cargos-cha­ve no secretariado para aprofundar a representatividade em Brasília. Almeida, no entanto, avalia que a opção de deixar o Congresso por uma secretaria mostra a falta de prestígio do trabalho parlamentar. "Hoje em dia é mais charmoso ser secretário que congressista, quando pela lógica deveria ser o contrário."

Paraná

Proporção de substitutos também é menor entre deputados estaduais

A Assembleia Legislativa do Paraná tem, proporcionalmente, três vezes menos suplentes em exercício que a bancada paranaense na Câmara dos Deputados. Dos atuais 54 deputados estaduais, três são substitutos de colegas licenciados (um a cada 18 vagas). Os três casos também são de parlamentares que preferiram exercer um cargo no Poder Executivo. Osmar Bertoldi (DEM) licenciou-se para assumir a Secretaria Municipal de Política Habitacional de Curitiba. No lugar dele, entrou Antônio Carlos Sales Belinati (PP). Luiz Cláudio Romanelli e Luiz Eduardo Cheida, do PMDB, são os atuais secretários estaduais do Trabalho e do Meio Ambiente, respectivamente. Eles foram substituídos por Gilberto Martin (PMDB) e Luiz Carlos Martins (PSD). Ao longo da atual legislatura (2011-2014), outros seis suplentes se tornaram titulares. (Colaborou Euclides Lucas Garcia)

A atual bancada paranaense na Câmara dos Deputados tem quase o dobro de suplentes em exercício que a média nacional. Dos 30 representantes do estado na Casa, cinco estão substituindo titulares licenciados (um a cada seis vagas). Na soma dos 513 parlamentares de todo país, 46 são "reservas" (um a cada 11 vagas).

INFOGRÁFICO: Confira a proporção de suplentes da bancada paranaense no Congresso Nacional

A proporção é similar em relação à bancada do estado no Senado. Das três cadeiras do Paraná, uma é ocupada por suplente. No conjunto de 81 senadores, 16 são suplentes (um a cada cinco).

Os pedidos de licença dos titulares têm motivos semelhantes. Em quase todos os casos eles preferiram deixar de lado o mandato para o qual foram eleitos para ocupar um cargo no Poder Executivo.

Candidata ao Senado com mais votos em 2010, Gleisi Hoffmann (PT) exerceu o mandato por quatro meses até assumir a Casa Civil, em junho de 2011. No lugar dela, ficou Sérgio Souza (PMDB), primeiro suplente na chapa da petista e que, tecnicamente, não recebeu nenhum voto direto.

Na mesma linha, quatro dos cinco deputados titulares que estão licenciados ocupam cargos no governo estadual. Dentre eles também está o mais votado, Ratinho Júnior (PSC). Atual secretário de Desenvolvimento Urbano desde janeiro, ele recebeu 358.924 votos, enquanto o substituto, Sérgio de Oliveira (PSC), teve uma votação 89% menor (40.454).

Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Cezar Silvestri (PPS) nem chegaram a exercer os mandatos na Câmara e seguiram direto para o primeiro escalão do governador Beto Richa (PSDB), em janeiro de 2011. Secretário da Fazenda, Hauly foi substituído na Câmara por Luiz Nishimori (PSDB).

Silvestri passou pelo cargo atualmente ocupado por Ratinho Júnior e desde janeiro está na Secretaria de Governo. O atual suplente dele é o pastor da Igreja Universal do Reino de Deus Oliveira Filho (PRB). Reinhold Stephanes (PSD) é chefe da Casa Civil estadual há seis meses e tem como substituto Marcelo Almeida (PMDB).

Já Cida Borghetti (PP) foi a única a não assumir outro cargo no Executivo. Ela solicitou licença de quatro meses (até 12 de outubro) por motivos particulares. O primeiro suplente dela é Luciano Pizzatto (DEM), que não ficou com a vaga por preferir continuar como diretor-presidente da Companhia Paranaense de Gás, estatal vinculada ao governo do estado.

A cadeira acabou com Pedro Guerra (PSD), filho do ex-ministro da Saúde e ex-secretário do governo Richa, Al­ceni Guerra. Da atual ban­cada paranaense, Pedro Guerra foi o que fez menos votos (31.376).

Comparação

Dentre todos os demais 25 estados e o Distrito Federal, apenas Minas Gerais e São Paulo têm hoje mais suplentes em exercício na Câmara que o Paraná (sete cada). Proporcionalmente, contudo, ambos ficam para trás por terem bancadas maiores. Os paulistas, com 70 deputados, têm um suplente para cada dez vagas, enquanto os mineiros, com 53 representantes, têm um substituto para cada oito cadeiras.

As únicas bancadas que, proporcionalmente, têm mais suplentes que a paranaense são as do Amazonas e do Tocantins. Ambas têm oito cadeiras no total e dois substitutos cada – um "reserva" para cada quatro vagas. Nove estados não têm suplentes em exercício, enquanto outros sete têm somente um, e outros cinco, dois.

No Senado, o Paraná e outros 13 estados têm suplentes em exercício. Goiás e Minas Gerais, com dois senadores suplentes cada, são os que têm o maior número.

Proposta tenta obrigar parlamentar a renunciar

Uma proposta de emenda à Constituição (PEC 21/2011) apresentada pelo senador Pedro Taques (PDT-MT) tenta obrigar os parlamentares que aceitam assumir cargos no Poder Executivo a renunciar ao mandato legislativo. O texto tramita atualmente na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e aguarda designação de relator.

Na justificativa da PEC, Taques descreve que a Cons­tituição estabelece a separação dos Poderes e designa ao Legislativo a fiscalização do Executivo. "De forma indireta, esse dispositivo acaba por agravar a falta de ética já tão manifesta em nossos dias e tão repudiada pela coletividade, que clama por maior lisura por parte dos nossos mandatários e representantes", diz o texto.

Em outra frente, o deputado federal Sandro Alex (PPS-PR) propôs em 2011 uma emenda com o mesmo conteúdo ao projeto de reforma política que vinha sendo debatido em uma comissão especial sobre o tema. "Um parlamentar não pode se atrelar a um poder que ele foi eleito para fiscalizar", diz o paranaense. Como a comissão não finalizou uma proposta, Sandro Alex vai reapresentar a sugestão ao novo grupo de trabalho sobre a reforma política aberto na semana passada.

Diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Antonio Au­­gusto de Queiroz afirma que as licenças de titulares para exercer funções no Executivo provoca um "rompimento de compromisso com o eleitor". "É justo e legítimo que ele tome uma decisão entre ficar no Parlamento ou renunciar. Agora, se um deputado não pode ser diretor de uma empresa privada, por que pode ser secretário ou ministro?", opina Queiroz.

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