Os clãs políticos tradicionais estão se perpetuando e assumindo novos espaços a cada eleição no Paraná. Eleger um candidato que não tenha vínculos com o poder e sem dinheiro é praticamente impossível na avaliação de Ricardo Costa de Oliveira, cientista político e professor de Sociologia da Universidade Federal do Paraná. Autor do livro O Silêncio dos Vencedores Genealogia, Classe Dominante e Estado no Paraná, Oliveira avalia que a falta de renovação dos sobrenomes prejudica a democracia.
Qual o impacto da continuidade desses clãs na política?
É um fenômeno conhecido na sociedade paranaense. O sistema político vem favorecendo, mesmo no regime democrático, a reprodução de famílias tradicionais na política, a conexão de estruturas de poder e de parentesco. Eleger alguém que tenha vínculos com políticos é muito mais fácil porque o candidato tem redes de apoio e de poder montadas e também tem dinheiro. É a combinação do nome, da rede política, do dinheiro e do projeto definido.
Essa combinação é que vem definindo as eleições?
Sim, basta observar os jovens parlamentares no Paraná, na faixa de 20 anos. A grande maioria é membro de tradicionais famílias. O deputado estadual Alexandre Curi, neto do ex-presidente da Assembléia, Aníbal Khury é um exemplo. Agora, a família também quer ocupar espaço na Câmara Municipal. É uma forma de não deixar nenhum espaço vazio e de loteamento das diferentes instâncias do Poder Legislativo porque se auto-apoiam. Quando chega a eleição para deputado, o vereador eleito também vai apoiar a reeleição do parente. Outro exemplo é o deputado mais novo da Assembléia, o Fernando Ribas Carli Filho, filho do prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli, sobrinho do deputado estadual Plauto Miró Guimarães e bisneto do ex-senador Flavio Guimarães. O nome Ribas é da mesma família do Manoel Ribas, interventor e governador no período Getúlio Vargas.
A conclusão é de que não existe renovação na política?
Existe uma renovação dos nomes, mas eles representam a continuidade de clãs políticos. Basta analisar os deputados estaduais eleitos em outubro. Fábio Camargo pertence a mesma família que o deputado federal Affonso Alves Camargo, neto do chamado presidente do Paraná na República Velha, Afonso Alves Camargo. É o mesmo Camargo também do Visconde de Guarapuava. Além disso, o pai e o avô do Fábio são desembargadores, a irmã é juíza, todos ligados a magistratura e o sogro é o chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro. Outros exemplos são o deputado estadual Reinhold Stephanes Junior, filho do ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, e o deputado estadual Ney Leprevost, que já foi vereador e teve o avô prefeito de Curitiba.
Mas esse não é um fenômeno só da última eleição. Os sobrenomes políticos vêm aumentando a cada nova disputa eleitoral?
Sim, os novos se somam àqueles que mantêm os mandatos, como é o caso do deputado federal mais votado, Gustavo Fruet, filho do ex-deputado federal Maurício Fruet. O deputado federal Ratinho Júnior, filho do apresentador de televisão Carlos Massa, é outro exemplo, que saltou da Assembléia Legislativa para a Câmara Federal. O mesmo ocorre com os deputados federais eleitos no ano passado, o Marcelo Almeida, que é filho de um grande empreiteiro, e o Rodrigo Rocha Loures, filho do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná.
Falta alternância no poder?
Tanto no Legislativo, como no Executivo. Existem dois fenômenos no Paraná, uma geração que envelhece no poder: Alvaro Dias, eleito senador em 1982 pela primeira vez, e o governador Roberto Requião (PMDB). Sem falar que o Paraná é o único estado que tem dois senadores da mesma família. O senador Osmar Dias, irmão do Alvaro entrou pelo parentesco. O Flavio Arns é de uma família muito ligada ao poder da igreja. O deputado federal Abelardo Lupion é neto do ex-governador Moisés Lupion. Sem esquecer do prefeito de Curitiba, Beto Richa, filho do ex-governador José Richa. Até na esquerda, isso é comum. O vereador de Curitiba André Passos é filho do ex-deputado federal Edésio Passos.
Isso significa que cada vez está mais difícil a eleição de quem está fora desse circuito?
É praticamente impossível alguém que não tenha dinheiro, cargo político e rede de poder tradicional conseguir se eleger. Os índices de renovação do Parlamento no Paraná são os mesmos da República Velha. Não vemos nomes novos e está cada vez mais seletivo o ingresso. Está mais difícil porque o sistema político vem privilegiando redes de poder e de dinheiro.
Qual o efeito disso para a população?
É muito ruim porque mostra a concentração do poder, a pouca circulação de parlamentares, a falta de diversidade. A única forma de mudar isso é a democracia, é preciso ter regras e leis que proíbam o nepotismo e que permitam o financiamento público de campanha.
Ricardo Costa de Oliveira, cientista político.
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