Qual o partido que conseguiu eleger no Paraná um senador, sete deputados federais e oito estaduais? A resposta é: nenhum. O PMDB, que elegeu bancadas maiores do que essas na Câmara e na Assembléia, não fez senador. Mas há uma instituição que conseguiu ter esse resultado. E foi um banco.

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De acordo com as prestações de contas dos candidatos, o Paraná Banco contribuiu com as campanhas de 16 políticos paranaenses eleitos em outubro. No total, investiu R$ 320 mil. O que dá uma média de R$ 20 mil por candidato eleito. Quem recebeu a doação mais polpuda foi o senador Alvaro Dias, que registrou R$ 75 mil vindos do banco de Joel Malucelli.

Na Câmara dos Deputados, o Paraná Banco doou para sete candidatos que tomam posse no ano que vem. Há gente de vários partidos, indo do PFL de Abelardo Lupion ao PT de Angelo Vanhoni. E na Assembléia Legislativa, a metade dos oito beneficiados pelas doações do banco está no PMDB do governador Roberto Requião. A maior doação foi para Waldyr Pugliesi, ex-secretário dos Transportes.

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Mas se foi quem mais conseguiu ajudar a eleger neste ano, o banco paranaense fica longe de ter feito o maior investimento na campanha. A Nutrimental, nesse caso, é quem leva o troféu. Além de doar R$ 1,5 milhão para a candidatura de Rodrigo Rocha Loures, herdeiro da empresa, a companhia investiu mais de R$ 900 mil nas campanhas de deputados estaduais. Já a Diplomata Industrial e Comercial foi quem mais investiu em uma única campanha. Foram R$ 1,6 milhão doados a Alfredo Kaefer – que é o dono da empresa.

A greve das pernas cruzadas

Enquanto a eleição corria solta no Brasil, um país vizinho vivia um exemplo bastante peculiar de cidadania. A cidade de Pereira, na Colômbia, tem um dos índices mais altos de homicídios do país. E em se tratando da Colômbia, isso significa muito. O problema é que os jovens da cidade, para provar sua macheza, entravam em gangues que competiam em shows de violência com as cidades rivais. E ninguém conseguia controlar o fenômeno.

No fim das contas, quem conseguiu achar um caminho para reduzir as mortes não foram os políticos. Nem mesmo a polícia local. Foram as meninas da região. Elas perceberam que os homens faziam todos aqueles absurdos para impressioná-las. E, cansadas de ver os namorados morrer à toa, decidiram agir. Ou melhor, parar de agir. Promoveram uma greve de sexo – a greve das pernas cruzadas, como a chamaram. Enquanto a violência não parasse, elas deixariam os marmanjos a ver navios.

Só precisaram manter a greve por duas semanas. Ouviram promessas de que tudo mudaria. E conseguiram mudar em 15 dias o que as autoridades não mudaram em anos. Eram meninas de 15 a 18 anos, em média. Pode até soar engraçado, para quem está de fora. Mas, imaginando a situação delas, é possível ver que elas aproveitaram a única arma que tinham para melhorar a vida de uma comunidade perdida.

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E isso, por si só, deveria ser visto como um exemplo a ser seguido.

Praga 1Alguém parece ter rogado uma praga contra o grupo de Jaime Lerner. Não é só o ex-governador que está fora da vida pública temporariamente. Curiosamente, a maior parte de seus assessores mais próximos também está longe de mandatos eletivos por enquanto. Começando por Emília Belinati, vice-governadora em seus dois mandatos e que não conseguiu uma vaga na Câmara dos Deputados. Rafael Greca, ex-pupilo, não conseguiu se eleger deputado estadual – isso depois de chegar a ministro de estado. O homem forte dos dois governos de Lerner, Giovani Gionédis, trocou o primeiro time da política pela segunda divisão do campeonato brasileiro.

Praga 2A lista dos aposentados políticos do governo Lerner é longa: Heinz Herwig e Caio Soares foram para o Tribunal de Contas; José Cid Campêlo Filho e Joel Coimbra voltaram à advocacia; Hermas Brandão, depois de ser secretário de Agricultura e presidente da Assembléia na era Lerner, acabou ficando sem mandato; Antônio Polloni foi coordenador da campanha de Osmar Dias, e perdeu a eleição; Algaci Túlio, vice-prefeito de Lerner, ficou longe de conseguir uma vaga na Assembléia Legislativa.

Praga 3A maior exceção à aposentadoria coletiva dos ex-lernistas é Cassio Taniguchi – aliás, um dos poucos a continuar no PFL depois do fim do governo. O ex-prefeito foi eleito deputado federal. Reinhold Stephanes também se elegeu novamente – mas está atualmente ligado ao grupo de Roberto Requião e não mantém qualquer vínculo com o ex-governador.

Só dá CuritibaCom a reeleição do governador Roberto Requião, o Paraná completa 20 anos sem eleger um político do interior do estado para o Palácio Iguaçu. O último foi Alvaro Dias, que tem base eleitoral em Londrina, eleito para o cargo em 1986. Depois disso, só Requião e Lerner, ambos ex-prefeitos de Curitiba, conseguiram chegar ao governo. Curiosamente, os três últimos governadores eleitos por voto popular antes da série Requião–Lerner vinham do interior. Além de Alvaro, José Richa e Paulo Pimentel tinham ocupado o governo.

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Esta coluna é publicada aos sábados.

rgalindo@gazetadopovo.com.br