O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, afirmou que não disputará as eleições do ano que vem, avaliou que o Brasil não estaria preparado para ser governado por um negro e classificou o Itamaraty como "uma das instituições mais discriminatórias do Brasil". Ele também fez críticas à imprensa.
Desde o julgamento do processo do mensalão e a condenação de 25 dos 38 réus, o nome do ministro começou a ser lembrado em pesquisas de opinião. "Sou muito realista. Nunca pensei em me envolver em política", afirmou o ministro em entrevista publicada neste domingo pelo jornal O Globo. O presidente do STF não foi filiado a partidos políticos no passado e, reservadamente, mantém críticas a legendas que considera de direita, como o DEM, que contestou a política de cotas raciais. "Não tenho laços com qualquer partido político." Barbosa se declarou "social-democrata à europeia".
Como ministro do Supremo, ele teria de deixar o tribunal no ano que vem caso decidisse concorrer às eleições e renunciar à presidência da Corte quase sete meses antes de terminar seu mandato. Barbosa acredita que o Brasil não está pronto para ter um presidente negro. "Acho que ainda há bolsões de intolerância muito fortes e não declarados no Brasil", disse.
Itamaraty
Barbosa afirmou ter sido vítima de preconceito ao ser reprovado no concurso para diplomata. Foi eliminado na fase de entrevistas. "O Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil", disse. E afirmou que "todos os diplomatas" do País queriam estar hoje na sua posição, na presidência da mais alta corte brasileira. O Itamaraty não comentou as declarações, mas disse que a instituição mantém um programa de ação afirmativa.
O ministro também criticou a imprensa. Sobre o fato de ter mandando um repórter do jornal O Estado de São Paulo "chafurdar no lixo" em março, Barbosa disse que o jornalista "se encontra num conflito de interesses no tribunal". Em nota, O Estado de S.Paulo afirmou que "a manifestação atual do presidente do STF parece mostrar que seu pedido de desculpas, à época do episódio, foi no mínimo insincero".
Barbosa também acusou o jornal Folha de S.Paulo de violar sua privacidade e sugeriu motivação racial. O jornal respondeu que o ministro ainda não está acostumado à exposição que o atual cargo de presidente do STF lhe confere. Internamente, as declarações do ministro foram vistas como uma estratégia de comunicação. Assessores defendiam a versão de que matérias críticas a ele eram publicadas depois que pesquisas de opinião eram divulgadas com o nome de Barbosa.
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