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O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, afirmou na noite desta quinta-feira (25) que a proposta de emenda à Constituição (PEC) aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara "fragilizará a democracia", caso seja incorporada à Carta Magna.

A proposta prevê que o Congresso Nacional referende as súmulas vinculantes, as ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) e as ações declaratórias de constitucionalidade (ADC) emitidas pelo Supremo. Caso o Congresso se posicione contra as decisões do STF, a questão deverá ir para consulta popular.

"Separação de poderes não é uma noção abstrata. Faz parte do direito de todos os cidadãos. Integra o conjunto de mecanismos constitucionais pelos quais um poder contém ou neutraliza os abusos do outro. Tem quase 80 anos a tradição já consolidada de se permitir que o Supremo Tribunal Federal declare a inviabilidade jurídica de uma lei votada pelo Congresso, por violação de uma cláusula constitucional. Por que alterar isso agora, em pleno século 21? Essa medida, se aprovada, fragilizará a democracia", disse Barbosa por meio de sua assessoria.

O presidente do Supremo passou a semana nos Estados Unidos, onde participou da cerimônia de gala da revista "Time". Joaquim Barbosa foi considerado pela publicação uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Ele retorna ao país nesta sexta-feira (26).

Queda de braço

A declaração foi mais um capítulo na queda de braço dos últimos dias entre Legislativo e Judiciário. Nesta quinta, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou que vai recorrer da decisão do ministro do STF Gilmar Mendes, que congelou, na noite de quarta-feira, 24, a tramitação do projeto que inibe a criação de partidos políticos.

"O papel do Legislativo é zelar por sua competência. Da mesma forma que não interferimos no Judiciário, não aceitamos que o Judiciário influa nas nossas decisões", disse Renan, ao lado do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Nesta tarde, Gilmar Mendes voltou a fazer duras críticas à aprovação da admissibilidade da PEC na CCJ. Segundo ele, se for aprovada pelo Legislativo, é "melhor fechar" o Supremo.

Associações de magistrados mostram preocupação

Na noite desta quinta-feira, uma nota assinada por associações de classe da magistratura criticou a iniciativa da CCJ da Câmara. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) expressaram preocupação quanto à possibilidade de enfraquecimento do Poder Judiciário.

Leia a íntegra da nota:

"A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) entidades de classe de âmbito nacional da magistratura, considerando a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, da PEC 33/2011, vêm a público expressar preocupação quanto ao encaminhamento de propostas que tenham o intuito de enfraquecer o Poder Judiciário, resultando no fundo em impunidade e negação de justiça, o que fazem nos seguintes termos:

1) A Constituição de 1988 inaugurou um novo momento no país, fundado na cultura democrática e no respeito às instituições constituídas, no qual a independência e a harmonia entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário constituem cláusulas pétreas insuscetíveis de alteração (art. 60, § 4º, III, CF).

2) A Constituição Federal, à qual todos estão submetidos, confere ao Poder Judiciário o monopólio da jurisdição e impede qualquer tentativa de restringir ou amesquinhar seu exercício (art. 5º, XXXV). Suas decisões, quando não há mais recursos pendentes, tornam-se imodificáveis (art. 5º, XXXVI), garantia essa que expressa direito fundamental do cidadão e uma preocupação do constituinte com a estabilidade das instituições.

3) A aprovação da PEC 33/2011, ao condicionar a produção de efeitos de decisões do Poder Judiciário no âmbito do controle de constitucionalidade a um juízo do Poder Legislativo, de natureza eminentemente política, bem como ao dificultar a prolação dessas decisões, por intermédio da elevação de quóruns, significará um retrocesso institucional extremamente perigoso, o que não é bom para o Brasil.

4) Os magistrados brasileiros esperam que a PEC 33/2011 e todas as demais propostas que enfraquecem os poderes constituídos sejam rejeitadas e definitivamente arquivadas, ante os riscos para a democracia, para o respeito aos direitos fundamentais e para o aperfeiçoamento das instituições.

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