Mesmo com o discurso repetido pelo governo Dilma Rousseff (PT) de que enviou ao Congresso um “orçamento realista”, vislumbrando déficit de 0,5% do PIB para o próximo ano, o relator-geral da proposta, deputado Ricardo Barros (PP-PR), costura um acordo para prever um rombo real maior nas contas públicas.
Dilma sai em defesa de Levy, diz que déficit é ruim e não descarta CPMF
A presidente Dilma Rousseff saiu em defesa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nesta quarta-feira (2), ao afirmar que ele não está “isolado” ou “desgastado” dentro do governo, buscando empurrar para longe as especulações de que ele poderia estar perdendo espaço na condução da política econômica.
Leia a matéria completaEle admite ser favorável a se manter o abatimento dos investimentos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da meta de superávit primário de 2016. Na prática, além do déficit já declarado de R$ 30,5 bilhões, isso significa que o governo ainda poderia descontar outros R$ 42,4 bilhões de investimentos do programa, um dos carros-chefe da gestão da petista. Dessa forma, o rombo potencial é de R$ 72,9 bilhões, ou 1,2% do PIB.
A polêmica dedução do PAC não constava da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016 enviada pelo governo em abril, quando a meta fiscal ainda era de 2%. Foi incluída no mês passado pelo relator da LDO, deputado Ricardo Teobaldo (PTB-PE), após a queda da meta para 0,7%.
Barros, que é um dos vice-líderes do governo na Câmara, deve manter a sugestão, diante da nova meta negativa. Tecnicamente, o déficit continuaria sendo de 0,5%. Mas, na prática, o rombo pode ser elevado em mais 0,7% com o abatimento do PAC.
Investimentos
O relator justifica que “a manutenção da regra de abatimento do PAC na meta fiscal é importante porque o país precisa manter os seus investimentos, melhorar sua competitividade e ter geração de empregos”. “No PAC há R$ 15 bilhões de Minha Casa, Minha Vida, que gera muito emprego”, disse Barros.
A avaliação de parlamentares governistas é a de que com o abatimento fica mais difícil haver diminuição do ritmo de investimentos em infraestrutura no país, mesmo diante da atual recessão econômica. A medida também abriria espaço para o governo acomodar novos rombos no orçamento para além dos R$ 30,5 bilhões previstos.
Aliados do governo no Congresso e fontes ouvidas pela reportagem já identificaram pelo menos R$ 13,7 bilhões em despesas não cobertas e com a previsão inflada de venda de ativos. A oposição, por sua vez, já disse que o rombo pode chegar a, pelo menos, R$ 70 bilhões.
O senador petista Walter Pinheiro (BA), integrante da Comissão Mista do Orçamento, disse ser “simpático” à inclusão do abatimento do PAC. Contudo, defende que a medida esteja atrelada à continuidade das obras.
A oposição criticou a iniciativa. O líder oposicionista do Senado, Alvaro Dias (PR), disse que, embora não haja como deixar de fazer investimentos no PAC, o governo se vale de mais uma manobra para tentar maquiar as contas públicas. “Isso não é mais uma mágica fiscal? Se estamos combatendo as mágicas, seria dar respaldo a uma mágica fiscal”, afirmou.
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