Num jogo combinado com o governador Agnelo Queiroz (PT-DF), a base aliada do governo na CPI do Cachoeira vai usar a disposição do petista de dispor dos seus dados fiscal, bancário e telefônico como argumento para tentar quebrar o sigilo dos dados do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Um requerimento foi apresentado pelo PT e PDT para ser apreciado na quinta-feira (14) com pedido das quebras dos dois governadores. Para isso, os governistas não irão permitir que Agnelo assine ainda nesta quarta-feira um documento abrindo mão dos seus dados, como defende a oposição.
Mais cedo, Agnelo disse, sem que fosse cobrado, que abriria seu sigilo à CPI. A oposição imediatamente pediu que ele assinasse um documento neste sentido, o que foi barrado pelos governistas, liderados na comissão pelo PT.
"A oposição tentou uma manobra de resolver só o problema do Agnelo. nós queremos os dois. O Agnelo mostrou que não tem nada a temer, diferentemente do Perillo", afirmou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Na terça, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), perguntou a Perillo se ele repassaria seus sigilos à CPI. Houve protestos da oposição e o governador disse que não via necessidade nisso.
Com a decisão de não cobrar o compromisso de Agnelo por escrito, a CPI pode recusar a oferta dos dados. Agnelo depõe na CPI sobre suas relações com o grupo do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso acusado de corrupção.
Arapongagem
Agnelo disse à CPI que "é prática recorrente no DF" a arapongagem. Ele afirmou que teve seu telefone grampeado, assim como outras "300 pessoas do DF" e que determinou uma investigação à Polícia Civil. "Que os arapongas ponham as barbas de molho que nós desmontaremos esse esquema", afirmou.
Agnelo sugeriu que os monitoramentos ilegais são feitos por "grupos que dão sustentação a um esquema político criminoso que continua atuando" no DF.
O antecessor de Agnelo no governo renunciou após ter sido flagrado recebendo dinheiro de Durval Barbosa, no esquema que ficou conhecido como mensalão do DEM, referência ao partido na época do governador José Roberto Arruda. A entrega do dinheiro foi registrada em vídeo. As gravações flagraram ainda outros políticos do DF.
Agnelo foi cobrado pelo deputado Fernando Francischini (PSDB-PB) que denunciou ter tido seu sigilo quebrado pelo governo de Agnelo. "Dois sargentos da Casa Militar quebraram meus sigilos no dia seguinte que denunciei vossa excelência", afirmou.
O governador respondeu que, neste caso, foram acessados dados do Infoseg, o que não significa quebra de sigilo. "A Casa Militar tem habilitação para isso."
Interceptação
Reportagem da Folha de S.Paulo de 18 de abril mostra que a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, apreendeu manuscritos que indicam a interceptação de telefonemas entre jornalistas e um ex-deputado federal críticos ao governador do Distrito Federal.
Foram os primeiros indícios de que telefonemas foram interceptados ilegalmente por pessoas ligadas ao grupo de Cachoeira. A operação da PF encontrou os papéis no final de fevereiro, ao cumprir mandado judicial de busca e apreensão no apartamento do sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá -que segundo as investigações trabalhava para Cachoeira.
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