72% das medidas provisórias que tramitaram na Câmara dos Deputados no primeiro mandato de Dilma Rousseff foram relatadas por parlamentares dos dois principais partidos da base: PT e PMDB. No Senado, petistas e peemedebistas, juntos, foram responsáveis pela relatoria de 64% das MPs. O número de medidas provisórias que ficaram a cargo das duas siglas aumentou após uma mudança no rito de tramitação das MPs.
Partidos da base aliada de Dilma Rousseff foram responsáveis por quase todas as relatorias de medidas provisórias (MP) propostas pela presidente durante seu primeiro mandato. Na Câmara dos Deputados, 94% das relatorias ficaram com os partidos da base. No Senado, 91%. Mesmo não tendo nem sequer a metade dos parlamentares da legislatura passada, os dois principais partidos da coalizão, PT e PMDB, juntos ficaram com as relatorias de 72% das medidas provisórias na Câmara e 64% no Senado.
Esse dado é um indicativo de que, mesmo com um Congresso aparentemente mais hostil ao governo do que durante o segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o Planalto ainda mantém rédeas firmes sobre o Legislativo. Na Câmara e no Senado, apenas oito cargos de relator ficaram com a oposição e ainda menos vezes com parlamentares oposicionistas considerados líderes dentro das duas Casas.
Mudança de rito
O rito de tramitação das MPs mudou em março de 2012. Antes disso, havia a previsão de que uma comissão mista fosse formada para analisar o texto e formatar as emendas. Mas ela não era obrigatória. Na prática, a comissão não era formada e a MP era relatada em plenário, por um relator determinado pela presidência da Câmara.
A formação dessa comissão se tornou obrigatória. Os relatores (um senador e um deputado) passaram a ser designados pela própria comissão, que também ficou responsável por analisar as emendas. Depois disso, o domínio petista e peemedebista ficou ainda mais proeminente. Antes da mudança, eles relataram 57% das MPs. Depois, esse número subiu para 77%.
O que são MPs?
As medidas provisórias (MPs), como o próprio nome diz, são normas jurídicas válidas por tempo determinado editadas pela Presidência da República. Para se tornarem leis, precisam ser aprovadas pelo Congresso. O rito é o oposto de um projeto de lei comum. Primeiro, o Executivo institui a peça legal, em caráter temporário. Depois, o Legislativo analisa e pode transformar a medida em uma lei, através de um Projeto de Lei de Conversão (PLV).
Em tese, as MPs deveriam ser usadas apenas em casos excepcionais. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, entretanto, esse não é exatamente o caso. Em oito anos de governo, o tucano editou 365 uma média mensal de 3,8 MPs, uma a cada oito dias. Na era Lula, foram 419 média de 4,3 por mês. Durante o 1.º mandato, Dilma editou 145 MPs, uma média de 3 por mês. Programas importantes do governo federal, como o Mais Médicos, foram instituídos dessa maneira.
O relator é uma peça importante dentro desse processo: ele recebe as emendas propostas pelos outros deputados e senadores e edita o texto final. Ou seja, ele pode incluir ou excluir questões que contrariam os interesses do governo.
Além disso, é comum que deputados e senadores, assim como o próprio governo, incluam os chamados "jabutis" nas MPs acréscimos nas medidas provisórias que pouco ou nada têm a ver com a matéria principal da matéria. O relator pode, portanto, fazer o controle de entrada e saída desses "jabutis", incluindo os seus próprios.
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