O governo do estado venceu a queda de braço com a Assembléia Legislativa e derrubou a proposta de emenda constitucional que proíbe o nepotismo no Paraná. Apesar dos 29 votos favoráveis, a emenda foi rejeitada porque seriam necessários, no mínimo, 33 votos para a aprovação. Dos 54 deputados, 15 votaram contra e outros 9 não compareceram à sessão, que se arrastou durante quase cinco horas.
Na primeira votação, no dia 28 de março, a emenda foi aprovada por 40 parlamentares. O resultado de ontem surpreendeu porque 10 deputados mudaram o voto ou se ausentaram do plenário.
O governo usou todo seu poder de convencimento para conseguir o apoio de aliados na derrubada da emenda. O chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro (PMDB), acompanhou a sessão e conversou individualmente com os deputados pedindo votos.
A orientação era para votar contra a proposta da Assembléia Legislativa e defender uma terceira emenda antinepotismo que foi apresentada ontem pela bancada do PMDB. Agora tramitam na Casa dois projetos com o mesmo teor: um do governo do estado, enviado no fim de março, e outro, assinado por 21 deputados.
A base governista apresentou a nova proposta como "ideal e tecnicamente perfeita". O texto é parecido com a emenda derrubada ontem. A novidade é que permite a contratação de parentes do governador no cargo de secretário de estado, desde que tenham qualificação técnica. "Queremos aprovar essa nossa proposta que é a mais completa de todas", disse o líder do governo, Dobrandino da Silva (PMDB).
A oposição considerou a iniciativa mais uma manobra para beneficiar os parentes do governador que ocupam cargos comissionados no estado. "A única motivação deles é abrir uma exceção na lei para beneficiar o Maurício Requião", disse o presidente da comissão especial que elaborou a emenda da Assembléia, Durval Amaral (PFL). A lei, segundo ele, tem de ser geral e não pode discriminar ou privilegiar ninguém.
Para o autor do projeto que deu origem à emenda, Tadeu Veneri (PT), a estratégia do governo é mais uma "piada" do que uma manobra. "Isso é tratar a população como se não tivesse raciocínio", criticou.
Apesar dos protestos, a bancada do governo conseguiu vencer. Os derrotados culparam os quatro deputados do PT que não votaram: Natálio Stica, Hermes Fonseca, Pedro Ivo Ilkiv e o líder do partido, Ângelo Vanhoni, que chegou a fazer o encaminhamento da votação, mas depois se ausentou do plenário. "Os quatro derrotaram a aprovação. Quem se ausentou deu o pior exemplo para o Parlamento", disse o líder do PPS, Marcos Isfer.
O presidente estadual do PT, deputado André Vargas, também ficou indignado porque a bancada tinha fechado questão para votar favorável à emenda. "Estranhei a posição do líder do PT. É preciso votar e assumir as responsabilidades. Não posso trair os meus companheiros, ainda mais porque o projeto é de um deputado do próprio partido", disse.
A discussão sobre o nepotismo ainda vai longe. O presidente da Assembléia, Hermas Brandão, disse que vai dar seqüência à tramitação das duas outras emendas, começando hoje pela proposta do governo. Será dado um prazo de cinco dias para a apresentação de emendas.
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