A queda de mais um ministro do governo Dilma, Alfredo Nascimento (Transportes), evidencia o problema estrutural do modelo de coalizão política em que está assentado o governo Dilma Rousseff. A avaliação é do cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Carlos Melo. Ele diz que facções da base aliada disputam cargos e a liberação de emendas. "É difícil administrar uma base de quase 400 parlamentares. Quem tiver telhado de vidro vai dançar também", diz, alertando para a possibilidade de novas crises dentro do governo federal.
"E, quando o governo não premia todos os grupos, há um festival de denúncias e dossiês. O Brasil tem uma espécie de regime presidencialista franciscano de coalizão, em que impera a lógica do 'dando é que se recebe', e que se torna insustentável agradar a todos da base, que aumentou do governo passado para este", afirma.
De acordo com Melo, um governo de coalizão deveria ser baseado em um plano aprovado pelos partidos. "Mas, aqui no Brasil, é baseado em tudo menos num projeto, e sim em espaços". Para ele, as alternativas da presidente Dilma Rousseff são aumentar o tamanho do Estado para alocar toda a base, tendo em contrapartida "enormes custos fiscais", ou alterar a lógica do trato político. "Ou você repactua e redistribui, e algumas pessoas vão ter que se conformar em perder espaço, ou muda toda a estrutura, o que é mais difícil".
O cientista político minimiza ainda o fato de Nascimento ter sido escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o agora ex-ministro foi mantido no cargo pela presidente Dilma, assim como o foi o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, que deixou o cargo após denúncias. "Os nomes são herança do Lula mas a estrutura não", justifica.