Rebelados com o governo, os principais dirigentes dos partidos integrantes da coalizão da presidente Dilma Rousseff querem um novo modelo de relacionamento com o Palácio do Planalto, com menos poder para o PT, mais diálogo entre os parlamentares e o cumprimento das promessas de liberação das emendas parlamentares. Os aliados acham que o PT leva muita vantagem sobre os demais 16 partidos da coalizão na ocupação dos espaços e nos dividendos políticos de realizações do governo.
O PMDB porta-voz do descontentamento geral reclama que não recebe crédito por programas bem-sucedidos do governo, embora contribua para aprová-los. Gaba-se de ser mais fiel que o PT. Cita a aprovação do Fundo de Previdência dos Servidores (Funpresp) na Câmara, quando registrou só três votos contrários ao governo. O PT teve oito dissidentes.
Peemedebitas reivindicam também maior autonomia sobre os ministérios que comandam: Agricultura, Assuntos Estratégicos, Minas e Energia, Previdência e Turismo. "Ao contrário dos ministérios do PT, como Saúde e Educação, e do PSB, como Integração Nacional, nossos ministérios não dispõem de verbas para que possamos anunciar obras nos municípios. Ficamos na dependência do PT", afirma o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
O problema, de acordo com os peemedebistas, é que mesmo nessa situação, sem poder anunciar obras nem convênios, os ministérios ainda são tutelados. O titular da Agricultura, Mendes Ribeiro, não pode fazer nada sem consultar as ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. O mesmo ocorre com o Ministério do Turismo. O ministro Gastão Vieira vive sob vigilância.
"São essas coisas que têm de mudar. O PT não pode fazer festa só para os petistas. Tem de compartilhar o anúncio dos convênios e obras com todos os partidos", critica Henrique Alves. Ele lembra ainda que no fim de 2011 houve um acordo do qual participou a ministra Ideli Salvatti , segundo o qual as emendas dos parlamentares seriam liberadas. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o corte de todas as emendas parlamentares no início deste ano.
Na opinião dos dirigentes de partidos aliados, falta ao governo encontrar um substituto para o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, que deixou o governo em junho passado depois da revelação de que teria multiplicado seu patrimônio por 20 vezes em quatro anos.
Na época de Palocci, comenta um peemedebista, ele recebia a lista de reivindicações e dizia: "Vamos com calma. Não consigo tirar algo da presidente no primeiro encontro. Temos de negociar por umas três ou quatro vezes. Mas fiquem tranquilos que tudo será atendido". Com Palocci, as nomeações saíram. Depois que foi embora, suspeita-se até de que as listas de pedidos entregues a ele desapareceram.
Hermenêutica
Para o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG), o problema do governo é a "hermenêutica". "Ninguém do governo se entende com o Congresso. É preciso encontrar uma forma de falar que seja comum aos dois lados." Portela também reclama da liberação de emendas e cita essa situação como um exemplo da falha na "hermenêutica". "O governo não cumpre a lei e não libera o dinheiro das emendas para as obras", diz.
Com 37 deputados e sete senadores, o PR vive uma situação dúbia. Não sabe se é governo ou se é independente. Aguarda o pagamento da promessa de um ministério. Embora a pasta dos Transportes tenha sido entregue a Paulo Sérgio Passos, filiado ao PR, os parlamentares da legenda não se sentem obrigados a votar com o governo, porque não se consideram representados pelo ministro.
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