O ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem ao deixar o prédio do Fórum Criminal Federal de São Paulo, após depor como testemunha de defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, ter convicção de que o mensalão não existiu. Dirceu é apontado como chefe de um esquema de pagamento de propina a parlamentares para influenciar votações no Congresso a favor do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A tese da inexistência do esquema também foi defendida pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Questionado se acreditava na existência do esquema, Thomaz Bastos respondeu: "A minha convicção é de que não." Ele evitou comentar sobre suas expectativas a respeito do resultado do processo. "A Justiça vai ser feita", resumiu. O ex-ministro da Justiça contou ter feito um depoimento rápido sobre atributos pessoais de Dirceu.
Ao chegar ao Fórum, ele havia dito que falaria sobre pontos muito "abonadores" da vida do ex-ministro da Casa Civil, assumindo o papel de uma "testemunha da imagem". "Ele (Dirceu) é um sujeito disciplinado e preparado. Nunca o vi trabalhar menos de 12 horas na Casa Civil", comentou. Bastos disse também que recorreria a memórias familiares para evocar qualidades do ex-ministro. "Antes de a gente se conhecer, já tínhamos uma relação familiar. Meu pai e minha mãe foram padrinhos de casamento dos pais dele."
Márcio Thomaz Bastos foi a primeira de seis testemunhas de defesa ouvidas na tarde de ontem.
Coro
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sustentou que não sabia da existência do mensalão. "A partir do que pude testemunhar, eu não tive conhecimento nem vi esse esquema funcionando", disse Rebelo, após depoimento a favor de José Dirceu. "Para mim, não existiu." Rebelo também respondeu como testemunha de defesa do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB).
Ao ser questionado sobre como poderia depor ao mesmo tempo a favor de Jefferson, que denunciou o mensalão, e de Dirceu, apontado como o chefe do esquema, Rebelo respondeu: "A testemunha é da Justiça. As perguntas são feitas e cabe à ela (Justiça) cotejar as minhas respostas com o que os advogados de cada um dos réus apresentar." Ao contar à imprensa sobre seu depoimento a respeito de Dirceu, Rebelo afirmou. "Participamos de várias batalhas po-líticas juntos. Fui testemunha dele no Conselho de Ética e estou aqui."
Rebelo foi a segunda testemunha a falar sobre o caso, seguido pelos breves testemunhos do publicitário Nelson Biondi e de Ricardo Baldassarini. Segundo Biondi, lhe foram feitos dois questionamentos: sobre como funcionava a bonificação de volume, uma espécie de prêmio oferecido por emissoras de televisão a anunciantes de acordo com a quantidade de anúncios veiculados, e se conhecia o publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do Mensalão. Biondi disse ter respondido não.
Acareação
O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, disse que entrará hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) com pedido de acareação entre o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e Rebelo. Segundo Barbosa, os dois teriam entrado em contradição ao responder se o governo federal investigara ou não as denúncias do mensalão.
De acordo com o advogado, Thomaz Bastos teria dito em seu depoimento que houve uma investigação formal no âmbito da União. Rebelo, por outro lado, teria declarado que a investigação foi apenas informal.
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