Desde que assumiu o cargo de presidente em exercício, Michel Temer tem travado uma batalha contra a presidente afastada Dilma Rousseff (PT). Desde o afastamento da mandatária por uma decisão do Senado, o governo interino cortou uma série de benefícios que eram usufruídos por Dilma no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.
O último corte foi do serviço de clipping (coletânea) diário de notícias, que deixou de ser entregue no Palácio Alvorada, causando irritação da presidente afastada. “São tentativas de constrangimento, de criar obstáculos para a atuação da presidente. É muito pequeno, muito mesquinho, que situações desse tipo aconteçam”, disse o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
O corte que mais causou irritação, porém, foi a restrição para uso de aeronaves especiais da Força Aérea Brasileira (FAB). Um parecer da Casa Civil limitou na semana passada viagens e número de assessores da presidente afastada. Cardozo afirmou que as viagens de Dilma serão feitas por meio terrestre ou aviões de carreira. Ele ressaltou ainda que a Presidência em exercício e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) serão responsáveis por quaisquer situações que violem a segurança pessoal da presidente Dilma ao longo destes deslocamentos.
“É mais uma tentativa de evitar que a presidente participe de reuniões políticas pelo país. É uma tentativa de intimidar e impedir que o discurso da presidente seja colocado para a sociedade”, disse o advogado de Dilma. Além de cortar viagens com aviões da FAB para outros locais que não Porto Alegre, o Planalto decidiu que só Dilma terá direito a utilizar o cartão de crédito corporativo para suas despesas pessoais. Quando ela estava na Presidência, alguns dos auxiliares dela também utilizavam o cartão.
Outros cortes
Na semana passada, a presidente e seus auxiliares ficaram por dois dias sem dinheiro para comprar mantimentos para o Palácio Alvorada. A Secretaria de Governo cortou o “cartão de suprimento”, usado para compra de alimentos e manutenção da residência oficial. Segundo a Secretaria, a suspensão foi provisória até que fosse elaborado um parecer jurídico sobre os direitos da presidente afastada.
No último sábado (4), o Palácio Alvorada ficou sem energia elétrica por duas horas, entre 21 e 23 horas. Outro apagão já havia acontecido enquanto a presidente preparava sua defesa no processo de impeachment. Na semana passada, enquanto era entrevistada pelo jornal The New York Times, a energia do Palácio caiu seis vezes.
Outra restrição foi a proibição do uso da palavra “presidenta” na programação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). “É lamentável que um governo sem voto e provisório tente apagar 54,5 milhões de votos, retirando uma letra tão bonita, a primeira, do alfabeto”, disse Dilma através das redes sociais.
Relações públicas
Para o cientista político da PUCPR Másimo Della Justina, o corte de despesas da presidente afastada é uma estratégia de relações públicas adotada pela equipe do governo interino. “Me parece que o grupo do Temer está fazendo de tudo para a Dilma não voltar”, diz Justina. “Ela ainda é a nossa presidente, enquanto ela é presidente, eu acho um pouco de deselegância no que o vice está fazendo”, avalia o cientista político.
“É uma estratégia de relações públicas por parte do governo atual de desmerecer um pouco a imagem dela, que seria a concorrente dele. É uma tentativa deliberada de expor ao ridículo para que a população pense que ela está gastando o dinheiro forma indevida ou está esbanjando recursos públicos”, avalia Justina.
Resposta
Em um encontro com historiadores na terça-feira (7), Dilma criticou as limitações impostas pelo governo interino. A presidente afirmou que estão tentando “transformar o Palácio da Alvorada numa prisão dourada”.
“Estão testando sistematicamente as características de um regime democrático. Tentam proibir meu direito de defesa nas instâncias da Câmara e do Senado. Tentam transformar o Palácio da Alvorada em uma ‘prisão dourada’ colocando uma barreira. Criam obstáculos para o meu direito de ir e vir. Ainda apresentam toda sorte de armadilhas. Me obrigam a responder se foi golpe ou não”, disse.
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