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Gurgel, responsável pela peça de acusação, terá seu trabalho questionado pelos defensores | José Cruz/ Gazeta do Povo
Gurgel, responsável pela peça de acusação, terá seu trabalho questionado pelos defensores| Foto: José Cruz/ Gazeta do Povo

Estratégia

Ministros procuram prova que incrimine ex-chefe da Casa Civil

Agência Estado

Ao menos dois ministros do Supremo procuram na acusação o ato de ofício, a prova que mostre que o ex-ministro da Casa Civil e réu no processo do mensalão José Dirceu estava por trás da compra de parlamentares com o dinheiro obtido pela engenharia que envolvia contratos de publicidade e empréstimos bancários.

Um dos ministros mais antigos do STF ressalta que, para confirmar a prática de corrupção ativa, o Ministério Público deveria ter ouvido o depoimento de um parlamentar contando ter sido procurado pela Casa Civil com a simples promessa de recursos em troca de apoio a projetos de interesse do Executivo. Se não houver prova, disse esse ministro, só restará ao STF absolvê-lo.

Nas quase cinco horas que usou para acusar os réus do mensalão, Gurgel admitiu as dificuldades para produzir provas contra Dirceu. "O autor intelectual, quase sempre, não fala ao telefone, não envia mensagens eletrônicas, não assina documentos, não movimenta dinheiro por suas contas, agindo por intermédio de laranjas e, na maioria dos casos, não se relaciona diretamente com agentes que ocupam níveis secundários da quadrilha." E sustentou as acusações em depoimentos que outro ministro do STF considera inconclusivos.

Números

• R$ 6 milhões seria o valor mais alto cobrado de um réu do processo do mensalão por um escritório de advocacia.

• 38 horas serão dedicadas à defesa dos acusados, com uma hora para cada réu, o que tomará oito dias do julgamento.

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  • Roberto Jefferson

Um batalhão de mais de 150 advogados de 30 dos maiores escritórios de criminalistas do Brasil entra em cena a partir de hoje para, numa ação coordenada, tentar livrar seus clientes da condenação no julgamento do mensalão, no Supremo Tribunal Federal. Cada um dos advogados principais de cada réu terá uma hora para sua sustentação oral perante os 11 ministros, o que significa que eles passarão oito dias, pelo menos, defendendo seus clientes e mirando no Ministério Público, que consideram o inimigo comum de todos.

VÍDEO: Assista a videorreportagem da série "Mensalão em Debate". O promotor Fábio Guaragni e o criminalista Rodrigo Sánchez Rios analisam o julgamento no STF

A maior parte do grupo troca figurinhas e não investe em conflito entre eles. Muitos reconhecem que estão trabalhando num julgamento histórico. Dizem ser um julgamento atípico, que reúne o maior número de advogados já visto num caso.

Na linha de frente estão grandes criminalistas e outros advogados mais modestos — tanto que o preço cobrado varia de R$ 6 milhões a R$ 500 mil, além de dois que trabalham de graça. Mas nenhum deles fala em cifras.

Poucos réus têm apenas um advogado fazendo sua defesa. Normalmente, são grupos de cinco a sete que se dedicam exclusivamente a um único cliente. Esse batalhão de advogados acompanhou, além dos réus, os mais de 700 testemunhos de todo o processo país afora.

O mineiro Marcelo Leo­­­nardo é um dos que confirmam que o corpo de advogados do mensalão trabalha afinado. "Nos reunimos sempre para discutir as estratégias porque nosso adversário comum chama-se Ministério Público Federal", diz.

Estratégia

Como estratégia de defesa, os advogados têm dito que a acusação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentada na sexta passada, tem falhas. Alguns defensores acusaram Gurgel de fazer uso de peças da investigação de outras áreas, como a CPI dos Correios, que não foram obtidas na fase da instrução dos autos judiciais.

"O procurador-geral está se atendo aos indícios produzidos na CPI [dos Correios] e na fase policial", declarou o criminalista Luiz Fernando Pacheco, que defende José Genoino, ex-presidente do PT, denunciado por formação de quadrilha e corrupção ativa.

Para Pacheco, o procurador-geral "ignorou aquela prova obtida sob o crivo do contraditório, perante o Poder Judiciário, com a participação e presença dos advogados, prova que derruba o a tese da acusação".

"Ele [procurador-geral] sugeriu que Delúbio pode ter ficado com parte do dinheiro [do esquema]. Isso é um absurdo, isso não está na denúncia, portanto, nem pode ser considerado pelo Supremo", reagiu o criminalista Arnaldo Malheiros Filho, defensor do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, também denunciado por crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.

"O Ministério Público fechou os olhos para os autos da ação penal 470, desprezou depoimentos colhidos durante a fase de instrução", disse o advogado José Luís Oliveira Lima, que defende José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil.

Em recuperaçãoJefferson diz que salvou Brasil de ter Dirceu como presidente

Agência Estado

O presidente nacional do PTB e um dos 38 réus no processo do mensalão, Roberto Jefferson (foto), afirmou que salvou o Brasil do ex-ministro José Dirceu, foco do seu ataque nas denúncias sobre a existência de um esquema de corrupção no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "A minha luta era com o José Dirceu. Ele me derrubou, mas eu salvei o Brasil dele. Isso para mim é satisfatório. Ele não foi, ele não é e não será presidente do Brasil. Caímos os dois", afirmou.

Jefferson deu sinais, no entanto, de que não entrará mais em embate com Dirceu e atribuiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à opinião pública a tarefa de julgar o ex-ministro. "O meu octógono de luta com ele já se exauriu. A luta agora é de vocês [imprensa], da opinião pública e dos ministros. Estou satisfeito", disse o ex-deputado, que eximiu o ex-presidente Lula de qualquer responsabilidade pelo mensalão.

Abatido e com a respiração ofegante, na saída do Hospital Samaritano, onde passou por cirurgia para a retirada de um tumor no pâncreas, Jefferson disse acreditar na Justiça e classificou o julgamento do STF como "o maior momento de afirmação da democracia no Brasil".

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