A Lava Jato, maior operação contra a corrupção já realizada no país, guarda curiosidades e alguns segredos ainda não desvendados. Um dos mistérios gira em torno das identidades de “Tigrão”, “Melancia” e “Eucalipto”, como eram chamados os “emissários” de Renato Duque e Pedro Barusco, ex-diretor e ex-gerente de serviços da Petrobras, respectivamente.
Os apelidos foram tema, inclusive, de acareação entre os empresários Augusto Mendonça e Julio Camargo, delatores da Lava Jato, na CPI da Petrobras. Eles disseram ter sido procurados por homens em nome de Duque e Barusco, mas afirmaram desconhecer a verdadeira identidade dos transportadores de valores.
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Há outros apelidos entre investigados pela Lava Jato, usados principalmente para identificação em planilhas de pagamento de propina. Os codinomes vão desde abreviações – como PR para o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa –, até apelidos mais elaborados – como Moch, identificação do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Veja alguns dos principais apelidos de envolvidos na Lava Jato:
Primo ou BBB
Peça central e um dos principais delatores da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef era conhecido como “Primo” nos bastidores da corrupção. O apelido foi registrado em conversas e planilhas de pagamento de propina de empresas. Youssef também era identificado como BBB. Além de ter seus próprios apelidos, o doleiro também tinha o costume de criar identificações. Aos políticos beneficiados pelo esquema, ele dava o codinome de “bandidos”.
Moch
Nas planilhas de pagamento de propina feitas pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, o codinome aparece como referência ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Em depoimento, o ex-gerente disse que o apelido é uma referência à “mochila”sempre carregada por Vaccari. Em mensagens do empreiteiro Marcelo Odebrecht, Vaccari também é identificado como “Vaca”.
Véio
Por ser o funcionário mais antigo do doleiro Alberto Youssef, o delator Rafael Ângulo Lopes era identificado por esse apelido.
Greta Garbo, Cameron Diaz ou Angelina Jolie
Talvez a campeã de apelidos entre envolvidos na Lava Jato seja a doleira Nelma Kodama. Em operações financeiras e troca de mensagens, ela sempre utilizava codinomes de atrizes famosas.
My Way
O título da famosa música de Frank Sinatra, que deu nome à 9ª fase da Operação Lava Jato, era como o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco se referia ao ex-diretor da estatal Renato Duque. Já o operador Shinko Nakandakari chamava Duque de “Amigão”.
MZB
Seria uma abreviação para “Muzamba”, um dos codinomes de identificação de um ex-presidente da Sete Brasil, Eduardo Musa.
Marshall
As planilhas do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco traziam esse apelido – uma referência ao ex-presidente da Sete Brasil, João Carlos Ferraz, também identificado pela abreviação “Mars”.
Bebê Johnson
Em mensagens de celular do doleiro Alberto Youssef, o apelido aparece como referência ao ex-deputado Luiz Argôlo (afastado do SD-BA), que também trocava mensagens carinhosas com o doleiro, como “Eu te amo”.
Leitoso
O doleiro Alberto Youssef usava o codinome para falar do ex-dirigente da Camargo Corrêa Eduardo Leite, um dos responsáveis por liberar propina a políticos e diretores da Petrobras.
Sabrina
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, outro dos principais delatores da Lava Jato, usava esse nome
em lembrança a uma ex-namorada – o apelido aparece em planilhas com o balanço da distribuição de propinas da estatal.
Sansão
É a identificação de um interlocutor pego em um telefonema com o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, em grampos feitos pela Polícia Federal pouco antes de o militar ser preso. Na conversa, ambos falam da delação premiada do ex-presidente da construtora Camargo Corrêa Dalton Avancini, que citou o nome de Pinheiro em depoimento. Na escuta, o ex-presidente da Eletronuclear chama Avancini de “f.d.p”. Não se sabe, porém, quem é Sansão.
Vô ou JP
Eram as identificações usadas para outro funcionário do doleiro Alberto Youssef, João Procópio Junqueira Prado.
Olheiro
O doleiro Alberto Youssef gostava de apelidar seus funcionários. Esse era usado para identificar o motorista do doleiro, Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte. Adarico chegou a ser preso na Lava Jato, mas foi absolvido das acusações.
Batman e Robin
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco revelou os apelidos de outros dois envolvidos na Lava Jato: o operador Júlio Faerman e seu sócio Luís Eduardo Barbosa – respectivamente Batman e Robin, já que sempre andavam juntos.
PAM
É como o operador do esquema Mário Góes é identificado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, segundo depoimentos dele.
PR
As iniciais fazem referência ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e também aparecem em planilhas usadas para registrar as propinas.
Mercedão
Era o codinome de João Claudio Genu, ex-assessor do PP que teria arrecadado propina em nome do partido. O apelido seria uma referência ao apreço de Genu por carros da marca Mercedes-Benz. Nas planilhas de distribuição de propina, ele também aparece como João, Gordo ou Ronaldo.
Brahma
A marca de cerveja era utilizada como referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em mensagens de texto trocadas entre executivos da empreiteira OAS.
JPI
É o codinome dado ao lobista do esquema Júlio Camargo, que seria um dos coordenadores dos desvios na Petrobras.
BOB
Um dos últimos presos da Lava Jato, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu aparece com essa identificação na contabilidade do consultor Julio Camargo. O codinome também foi relatado na delação de Alberto Youssef e é uma referência a Bob Marques, ex-assessor de Dirceu, também preso pela Lava Jato.
Tigrão, Melancia e Eucalipto
Os apelidos são referências a “transportadores” de valores obtidos em forma de propina em nome dos ex-dirigentes da Petrobras Renato Duque e Pedro Barusco. Mas ainda não há informações sobre as verdadeiras identidades deles.
* Esta reportagem foi atualizada às 12h50 de 11/10/2015 corrigindo a publicação incorreta da foto do prefeito de Pelotas, Eduardo Leite, homônimo do executivo da Camargo Corrêa citado no texto.
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