O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, fazia pagamentos de valores superiores a R$ 20 mil em dinheiro na região de Conchas (SP), onde possui uma casa. A informação é do pedreiro João Carlos Camargo, responsável pela construção da casa, e foi confirmada ao Estado por dois comerciantes da região sob a condição de não terem seus nomes revelados. Camargo, de 59 anos, acusa Bendine de não ter pago R$ 36 mil referentes à mão de obra para a construção da piscina da residência, uma das maiores da cidade. Bendine, por meio de nota, negou tanto a dívida quanto os pagamentos em espécie.
João Camargo é a segunda pessoa que trabalhou para Bendine a relatar o hábito do executivo de carregar altos valores em dinheiro. No ano passado, Sebastião Ferreira da Silva, ex-motorista do Banco do Brasil, disse em entrevista à Folha de S.Paulo que fez diversos pagamentos em espécie a mando de Bendine. O pedreiro e o presidente da estatal se conheceram em 1981, quando Bendine chegou a Conchas, a 210 km de São Paulo, para trabalhar como caixa na agência do Banco do Brasil na cidade de 17 mil habitantes.
“Ele também gostava de esporte, começamos a jogar bola juntos até que pegamos uma amizade”, lembra Camargo, o mais velho de três irmãos pedreiros conhecidos na região pela qualidade das construções. Em 2005, já ocupando uma diretoria do Banco do Brasil, Bendine decidiu demolir a velha casa da família e construir um imóvel que se destaca no centro da cidade. Camargo foi escolhido para tocar a obra.
A construção demorou mais de dois anos e o custo da mão de obra foi dividido em três partes. A primeira, de R$ 135 mil, era para a construção principal. A segunda, no valor de R$ 30 mil, era referente a obras complementares e a terceira, de R$ 36 mil, à piscina e churrasqueira, de acordo com o pedreiro. Segundo Camargo, as duas primeiras partes foram totalmente quitadas em parcelas. Os pagamentos que superavam R$ 7 mil eram feitos em espécie. “Às vezes ele ia até o banco e sacava. Às vezes já vinha de Brasília com o dinheiro em um envelope”, disse.
O pedreiro não tem contrato nem recibos. De acordo com ele, Bendine se recusou a pagar os R$ 36 mil restantes alegando que os valores pagos anteriormente estavam acima do preço do mercado. Segundo o advogado Julio Del Vigna, Camargo não quis cobrar a dívida na Justiça porque “é do tipo que faz as coisas na base da confiança, no fio do bigode”.
Além de construir a casa, o pedreiro diz que era encarregado de gerenciar a obra e outros pequenos serviços, entre eles pagar os fornecedores. Dois comerciantes da região confirmaram ao Estado, com a condição de não terem seus nomes revelados, que receberam valores superiores a R$ 5 mil, em espécie, para pagamento de materiais usados na construção.
Camargo diz que foi encarregado por Bendine de entregar em um só dia R$ 22 mil ao vendedor de um carro que seria dado de presente pelo aniversário de 18 anos da filha do executivo, em Piracicaba, e fazer um pagamento de R$ 17 mil ao fornecedor de materiais para a piscina, em Laranjal Paulista. “Eu inclusive falava para ele que era perigoso”, disse.
O pedreiro afirmou ter sido ameaçado por seguranças do BB quando Bendine já ocupava a presidência do banco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Presidente da estatal contesta declarações
- brasília
Em nota divulgada por meio da assessoria de imprensa do Banco do Brasil, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, negou ter pedido ao pedreiro João Carlos Camargo que fizesse pagamentos em dinheiro a não ser em casos de pequenas despesas.
“Nunca houve pedido formulado ao sr. Camargo para pagamentos em espécie, salvo no caso de pequenas despesas inerentes a obras desse tipo”, diz a nota. Bendine também disse não reconhecer a dívida de R$ 36 mil cobrada pelo pedreiro. O presidente da estatal confirma que Camargo foi contratado para realizar a obra, mas alega que o pedreiro não chegou a terminar o serviço. Segundo a nota da assessoria do Banco do Brasil, as declarações feitas por Camargo são falsas.
“Não há reconhecimento, por parte de Aldemir Bendine, da referida dívida. O sr. João Camargo foi contratado para a execução de reformas que foram realizadas, há cerca de oito anos, em um imóvel que pertence à família há 25 anos. O sr. Camargo, no entanto, não chegou a concluir os serviços. Todas as demais informações prestadas pelo mestre de obras não procedem”, diz a nota. Questionado sobre a existência de recibos que comprovem os pagamentos ao pedreiro, o presidente da estatal não respondeu.
Camargo contesta a versão e reafirma que terminou a obra e entregou as chaves quando a casa estava “pronta para morar”. Segundo o pedreiro, não se tratou de uma reforma pois a casa antiga foi totalmente demolida para a construção de um novo imóvel. Bendine está processando o ex-motorista do Banco do Brasil Sebastião Ferreira da Silva por ter dado entrevistas nas quais falou em pagamentos feitos em espécie pelo então presidente do banco.
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