Quase 700 bilhetes manuscritos pelo então presidente Getúlio Vargas em seu gabinete no Palácio do Catete foram entregues por doação ao Arquivo Nacional, que já os incorporou ao patrimônio e providenciará cópias para o Museu da República. As mensagens são dirigidas ao chefe de gabinete de Getúlio, Lourival Fontes, e estavam com o filho de seu amigo e xará Lourival Baptista, o psiquiatra Francisco Baptista, que as guardou por mais de 40 anos, a pedido de Fontes. A doação foi feita na sexta-feira (6).
Os bilhetes desmentem pelo menos um mito do mandato presidencial de Vargas: o de que ele, mergulhado em crises políticas e administrativas, não dava atenção rotina de governo. Num dos bilhetes, Getúlio pede ao chefe de gabinete informações sobre donos de caminhões conhecidos como paus-de-arara, que estariam cobrando preços escorchantes de nordestinos que migravam para a então capital da República.
Em outro bilhete, o presidente manda o chefe de gabinete informar ao prefeito da capital, Mendes de Moraes, os nomes dos três indicados aos cargos com salários de 7 mil, 6 mil e 5 mil cruzeiros e pede que pergunte se não teria outros, de 4 mil e 3, para os quais tinha seus candidatos.
Numa das mensagens, com data próxima da de seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, Getúlio escreveu: Querem me aprisionar; não sou prisioneiro de ninguém. A maior parte dos escritos, no entanto, não trai intenções desconhecidas, mas sim trata de assuntos burocráticos do dia a dia do presidente da República.
Os 682 bilhetes de Getúlio Vargas foram entregues guarda do ex-governados sergipano Lourival Baptista ao tempo em que era deputado federal, na década de 60, quando Fontes se tornou amigo tão próximo dele que fez questão de usar o apartamento funcional vizinho, num prédio da Câmara dos Deputados, em Brasília.
O acervo ficará disponível ao público interessado no Arquivo Nacional, na Praça da República, Rio de Janeiro. Provavelmente será editado um livro contextualizando as mensagens no período em que foram redigidas (1951 a 1954), com o auxílio da neta do ex-presidente, Celina Vargas do Amaral Peixoto, presente solenidade de doação do acervo.
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