A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), recentemente conseguiu tirar do ar duas páginas do Facebook "Gleisi Não" e "Gleisi Indelicada" que, segundo entendimento da Justiça, faziam campanha eleitoral antecipada contra ela por meio de difamação. Com base na quebra de sigilo de patrocínio a um desses perfis, a ministra acusou na última quarta-feira um jornalista que trabalha para a agência de notícias do governo do Paraná de ser o responsável pela promoção da página "Gleisi Não". Na sexta-feira, o governador Beto Richa (PSDB) negou que o jornalista seja servidor do estado e contra-atacou alegando que quem faz "militância cibernética" é o PT. Richa disse ainda ser ele próprio vítima de "barbaridades" nas redes sociais.
A polêmica envolvendo a difamação de políticos na internet, porém, não está restrita ao Paraná e vem se transformando em um preocupante fenômeno contemporâneo. Todos os pré-candidatos à Presidência da República, por exemplo, são alvo de páginas semelhantes nas redes sociais.
O professor Jamil Marques, doutor em Comunicação e Política pela Universidade Federal da Bahia, explica que a internet, ao mesmo tempo em que permite uma maior exposição da mensagem e da imagem do político, dificulta o controle das críticas e da difamação. "O conteúdo digital permite que as informações sejam apropriadas de maneira inadequada, e os fakes [perfis falsos dos políticos] distorcem características pessoais", afirma ele.
Marques explica que a boataria é perene, mas ganha mais destaque em época de eleição. E cada vez mais vai causar impacto eleitoral. "O que se tem é uma guerra discursiva, e resta ao candidato atenuar o impacto negativo para sua imagem. Não há dúvidas de que essa guerra deve se ampliar nas próximas eleições."
Como fazer?
Ao eleitor resta saber separar o que é notícia verdadeira dos boatos e factoides. Mas como fazer isso? O jornalista Eugênio Bucci, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), diz que esse é o papel das entidades da sociedade civil responsáveis pela fiscalização de agentes públicos e da imprensa, que checam os fatos.
Para Bucci, a população aos poucos está aprendendo a diferenciar o trabalho da imprensa das informações propagadas na rede. "Você pode até tratar uma doença pelo palpite da vizinha, mas vai procurar um médico quando o assunto for grave. Na hora de ter uma informação mais segura, as pessoas procuram fontes confiáveis. As redações [jornalísticas] independentes terão um papel cada vez mais importante", aposta Bucci. "Há um tempo atrás, as pessoas diziam Eu li na internet que... Ninguém mais diz isso hoje em dia porque a origem da informação vem sendo revalorizada", conclui o jornalista.
Jamil Marques, porém, alerta para o risco de se tornar um "leitor seletivo", que tende a buscar informações apenas em veículos de comunicação que respaldem sua visão de mundo. "Raramente as pessoas querem ouvir os dois lados. Preferem consumir opiniões de colunistas que concordem com suas ideias. Isso é pregar para os convertidos. A informação não deve ser tratada como a timeline do Facebook, em que é possível bloquear uma informação que eu não gosto. Falta às pessoas saber receber as informações, inclusive as que elas não querem receber."
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