Vai ou não vai?
Serra começa a assumir postura de candidato
Das agências
Brasília - Na tentativa de barrar uma rebelião tucana por causa da indefinição de José Serra (PSDB-SP) em anunciar sua candidatura presidencial, a cúpula do partido decidiu antecipar gestos políticos com o objetivo de diminuir a pressão e mostrar que o governador paulista vai disputar a Presidência.
A estratégia é criar fatos políticos ao longo desta semana que afastem qualquer dúvida sobre a disposição de Serra, que, em conversas reservadas, demonstra estar diante do maior dilema de sua vida o que foi reforçado pelo expressivo crescimento de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais.
Para sacramentar a candidatura de Serra, o PSDB anunciou na terça-feira uma lista de nomes que integrarão a coordenação da campanha presidencial e planeja transformar as comemorações do centenário do nascimento do presidente Tancredo Neves, hoje em Minas Gerais, num evento político para demarcar terreno com o PT.
"Não pode perdurar essa dúvida de que Serra pode não ser candidato. O partido tem que resolver isso esta semana. Até o fim dessa semana, todos ficarão convencidos de que ele será candidato. Ninguém terá mais dúvida disso", avisou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
Ontem, Serra já vestiu o figurino de candidato. Em discurso na cerimônia do Congresso em homenagem ao centenário de nascimento presidente Tancredo Neves, morto em 1985, Serra atacou o PT e defendeu o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Disse que Lula se tornou um dos principais beneficiários de políticas adotadas por governos passados especialmente a de FHC.
"O PT acabou por ser, por paradoxal que pareça, um dos principais beneficiários da eleição do primeiro presidente civil e das conquistas sociais e culturais da Constituição e soube, posteriormente, colher bons frutos de mudanças institucionais e práticas, como o Plano Real, o Proer (extinto programa de estímulo ao sistema financeiro nacional) e a Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou ao mencionar programas criados na gestão Fernando Henrique.
Brasílias - Criado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e ampliado pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa Bolsa Família é o novo motivo de disputa eleitoral entre PT e PSDB. A aprovação de um projeto do senador tucano Tasso Jereissati (CE), que vincula o reajuste do benefício às boas notas dos estudantes, desagradou aos governistas.
O presidente cobrou da oposição uma fonte de recursos para bancar o reajuste do benefício aos alunos que tiverem bom desempenho escolar. "A ideia pode ser boa de você criar um instrumento de incentivo, dar a mais para que as crianças estudem. Eu só espero que tenham colocado também de onde vai tirar o dinheiro, porque todo o gasto proposto tem que ter uma fonte de receita", comentou o presidente.
Lula também afirmou que o Bolsa Família não é um benefício de mérito, no sentido de premiar quem se sai melhor na escola, mas, sim, um benefício que serve para tirar as pessoas da miséria. "O Bolsa Família é um programa para garantir as proteínas e calorias necessárias para o povo mais pobre deste país", afirmou.
Jereissati autor do projeto que foi aprovado na terça-feira em caráter definitivo na Comissão de Educação do Senado e segue agora para avaliação na Câmara dos Deputados rebateu as declarações de Lula.
"O projeto sempre teve ligação com a educação. Não há desenvolvimento sem educação. O projeto não traz um custo exagerado. O presidente gasta bilhões com a Venezuela, com a Bolívia, Equador e não pode gastar com educação? Esse não é o Lula que conheci", disse o senador tucano.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também saiu em defesa do projeto de seu colega e aproveitou para tentar puxar a paternidade do Bolsa Família para o governo de Fernando Henrique. "O projeto do senador Tasso visa dar aperfeiçoamento ao Bolsa Família, que é a síntese de um bom projeto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele premia os melhores alunos", afirmou.
Para a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), o projeto de Tasso tem caráter eleitoreiro. Como os tucanos foram os criadores do Bolsa Família na gestão do ex-presidente FHC, os petistas afirmam que o objetivo dos tucanos é mostrar que o projeto elaborado por eles é mais viável do que aquele aperfeiçoado durante o governo Lula. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) rebateu a crítica. Segundo ele, o projeto não é eleitoreiro, já que entraria em vigor somente em 2011, quando um novo presidente da República estará eleito.
Pesquisa do instituto Datafolha divulgada ontem deixa evidente o motivo para a importância que tucanos e petistas dão ao Bolsa Família, ainda mais em ano eleitoral. O levantamento mostra que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT, lidera a corrida presidencial entre os eleitores que recebem recursos do programa. De acordo com a pesquisa, Dilma alcança 40% dos votos entre os beneficiados pelo Bolsa Família, enquanto o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), fica com apenas 25%.
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