Caxambu (MG) - O Brasil passou pela crise mundial com alguns arranhões e ainda está saindo dela fortalecendo seu papel de líder regional, ganhando espaço mundialmente. Apesar desse cenário otimista, quem sai ganhando com o modelo de desenvolvimento que o país está adotando? Na sessão especial de ontem do 33.º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, que está sendo realizado em Caxambu (MG), cientistas políticos discutiram a conjuntura nacional e as perspectivas para o ano eleitoral de 2010.
O país ganhou um projeto de futuro a longo prazo, analisa o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Márcio Pochmann (órgão do governo federal). "Deixamos de ser um país liderado para assumir liderança de um projeto de desenvolvimento e na esfera sulamericana", disse. Com a crise econômica enfrentada pelos Estados Unidos, países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) ganharam destaque e Pochmann acredita que o governo brasileiro está sabendo se recolocar diante desse cenário. Dentre os motivos que fizeram com que o Brasil não sentisse com tanta força a crise econômica mundial está o que ele chama de aliança para o desenvolvimento nacional, formada por empresários ligados ao setor produtivo, o que gerou ganhos para todo o país. "Depois de quase duas décadas, voltamos a ter mobilidade na estrutura social brasileira, pela geração de um certo estado de bem-estar social", afirmou Pochmann.
O cientista político Luiz Werneck Vianna questionou a validade desse chamado sucesso do cenário brasileiro. "O Brasil virou o jogo. Vamos para uma escala de desenvolvimento com expectativas acima das dos anos 50 e 60. Vamos quem, cara pálida? O sistema financeiro, o industrial moderno, o agronegócio, todos estão em posição forte no interior do estado", disse o professor ligado ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Para Vianna, nenhum presidente brasileiro, desde Getúlio Vargas, teve coragem de modificar as bases da estrutura latifundiária e por isso as contradições sociais persistem. "Foram criadas novas oportunidades para o capitalismo brasileiro, que se torna presente internacionalmente, seja na América Latina ou na África. Já há devaneios que projetam o país como uma grande potência." Para o professor, os ganhadores desse caminho de desenvolvimento são as elites do país e não toda a população. "Não podemos nos esquecer que as traves que sustentam esses saltos exitosos são fincados na exclusão", afirmou.
Eleição
Apesar da grande popularidade, o governo Lula deve enfrentar pressão por mudanças durante a campanha para a sucessão presidencial. De acordo com o sociólogo Antonio Lavareda, diretor do Instituto de Pesquisa Sociais, Políticas e Econômicas (Ipesp), dos que aprovam o governo Lula, 40% pedem mudanças. Além disso, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que deve polarizar a campanha com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), tem boa popularidade e é muito lembrado pela atuação na área da saúde, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Lavareda disse que pesquisas feitas em outros países mostram que quase todo governo que passa por reeleição enfrenta um processo de fadiga e que cada eleição deve ser analisada de forma isolada. "Será a primeira eleição desde 1989 sem a presença de Lula diretamente na disputa e com quatro candidatos competitivos." Além de Serra e Dilma, ele lembra de Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV). Para Lavareda, a decisão das eleições presidenciais vai depender de como se comportará a chamada nova classe média e as mulheres, já que os homens, segundo o sociólogo, "tendem a votar como em um time de futebol", enquanto elas tendem a ser mais racionais.
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