O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu, nesta terça-feira, que o governo não aumentará os gastos pelo fato de a economia brasileira se manter estável.
- O Brasil ainda exige cuidados. Não podemos, por termos chegado a uma situação de equilíbrio, achar que está tudo resolvido e começar a gastança. Vamos continuar agindo como sempre agimos. O Brasil não vai gastar aquilo que não pode gastar - afirmou durante cerimônia de início das obras da refinaria de petróleo Abreu e Lima, em Ipojuca (PE).
A afirmação do presidente foi feita um dia depois da divulgação de dados da proposta de Orçamento da União, que autoriza o setor público federal a contratar até 56.348 novos funcionários no ano que vem. Quando todas essas novas contratações estiverem efetivadas, elas causarão aos cofres públicos um custo adicional de R$ 3,498 bilhões por ano. A maior parte das mais de 56 mil vagas ficará com o Executivo, 40 mil. O Orçamento também prevê um aumento de 16,6% nos gastos sociais do governo, que devem chegar a R$ 72,9 bilhões no ano que vem.
E, nesta terça-feira, em audiência na comissão especial da Câmara que analisa a proposta que prorroga a CPMF até 2011 , o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu o argumento da oposição de que o governo teria uma folga de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2008. Na audiência, Mantega defendeu a CPMF, afirmando que a contribuição viabiliza o equilíbrio fiscal e que, sem sua prorrogação, haveria comprometimento da meta fiscal e também dos investimentos em programas sociais.
O presidente voltou a dizer que a economia está bem, mas afirmou que ainda há uma "Muralha da China" a se levantar.
- Não sei em quantos momentos da história o Brasil teve um presidente que pudesse viver o momento de tranqüilidade que estou vivendo. [Mas] não é porque tudo já esteja feito. Pelo contrário, temos uma verdadeira Muralha da China para construir e estamos começando.
Lula destacou que o consumo interno é o principal responsável pelo crescimento da economia, devido às políticas do governo de transferência de renda, geração de emprego e aumento do volume de crédito.
O presidente reforçou a idéia de que o Nordeste deve receber mais investimentos que as outras regiões.
- Há muita gente que acha que o Nordeste nasceu para emprestar pedreiro e lavador de carro para as regiões mais ricas desse país - disse. - Se atraso fosse solução, o Nordeste seria a região que receberia mais investimentos dos governos federais.
A refinaria é, a princípio, uma parceria entre a Petrobras e a venezuelana PDVSA. Mas as obras começarão sem a participação dos venezuelanos, pois o acordo ainda não foi concluído. O projeto tem especial importância, pois marca a retomada da expansão da indústria do refino no Brasil, depois de um período de 27 anos sem que uma nova refinaria fosse construída no país.
A refinaria de Ipojuca utilizará petróleo pesado do Brasil e da Venezuela, países com grandes reservas desse tipo de óleo. Com capacidade para processar 200 mil barris de petróleo por dia, deverá produzir, anualmente, cerca de 814 mil m³ de nafta de petroquímica, 322 mil toneladas de GLP, 8,8 milhões de toneladas de diesel e 1,4 milhão de tonelada de coque de petróleo. A nova refinaria tem como foco a produção de óleo diesel, principalmente para atender o crescimento da demanda de derivados no Nordeste, hoje deficitário em combustíveis.
Nação economicamente forte
O presidente disse ainda que falta muito para que possamos fazer do Brasil uma nação economicamente forte. Isso porque, durante muito tempo, as pessoas preferiram não acreditar no Brasil e preferiram ficar olhando o crescimento dos Estados Unidos, da Europa, da China, ao invés de discutir o que teríamos que fazer para o Brasil dar o seu salto de qualidade.
- Vocês estão vendo uma crise anunciada nos Estados Unidos. Uma crise anunciada. Pois bem, em outros tempos, o ministro da Fazenda já tinha ido 30 vezes a Washington e voltado. Já tinha vindo 30 delegações do FMI ao Brasil.
Segundo Lula, agora não precisamos ir aos Estados Unidos, nem eles precisam vir aqui, porque o Brasil, hoje, tem US$ 161 bilhões de reservas. Isso não quer dizer que o Brasil já está livre, disse Lula, principalmente porque não se sabe o tamanho da crise.
- Não queremos saber o que vai acontecer, mas precisamos ficar alertas, porque o Brasil ainda exige cuidado.