Apesar de a França e o Brasil terem realidades distintas, o Brasil pode ensinar ao país europeu como melhorar a realidade das populações que vivem nas periferias. Quem garante é o advogado urbanista e coordenador da visita de uma delegação francesa ao Brasil, Nelson Saule Júnior. A visita, que terminou neste domingo (13) em São Paulo, faz parte do projeto Observatório Internacional do Direito à Cidade (OIDC).
"Apesar da França e Brasil terem realidades muito distintas, a França é um país rico e tem muitas políticas sociais avançadas. Por outro lado, uma boa parte da população que vive nas periferias na França, em Paris, está começando a viver as mesmas situações da população daqui, de não ser atendida, de não ter perspectiva de melhoria das suas vidas. Então, como o Brasil vive muito essa realidade, podemos colaborar com a mudança dessa realidade na França", afirma Saule.
Nas últimas semanas, diversos jovens moradores de periferias em Paris incendiaram carros, monumentos e agrediram algumas pessoas, entre elas policiais. Para Saule, que esteve com a delegação brasileira na França em julho deste ano, uma das causas dos motins é o que ele chama de "regressão" das políticas sociais no país.
"A França está implantando uma política de renovação urbana que visa reformar esses prédios que são destinados à locação social para pessoas das periferias para atender outras camadas sociais com renda maior. Já estava tendo algumas situações de grupos e famílias de imigrantes e franceses afro-descendentes que seriam expulsos sem uma garantia de que teriam um novo atendimento habitacional", conta. Segundo ele, esse tipo de política gerou um sentimento de revolta nos jovens franceses.
As experiências compartilhadas entre o Brasil e a França farão parte de uma publicação que será encaminhada tanto ao governo francês quanto ao brasileiro e aos movimentos sociais. "Vamos fazer uma publicação com o balanço das experiências que vai ser encaminhado tanto para o governo francês quanto para o brasileiro; e tanto os movimentos da França quanto os do Brasil vão utilizar essa análise para suas reivindicações e plataformas de seus governos".