No dia 15 de março, um grupo de vândalos incendiou a sede do PT em Jundiaí (SP) depois de quebrar suas vidraças e pichar no muro a frase “Fora, PT”. Onze dias mais tarde, o diretório do partido no Centro de São Paulo foi alvo de uma bomba semelhante à que foi usada no dia 31 de julho contra o Instituto Lula. O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, que os trabalhadores poderiam ir às ruas “de armas na mão” para “enfrentar essa burguesia”.
A série de episódios como os descritos acima levou o Centro Nacional de Memória Histórica (CNMH) da Colômbia a expressar “grande preocupação e solidariedade” com o Brasil. Criado em 2011 pela chamada Lei de Vítimas, o órgão é considerado um dos mais respeitados do mundo no que diz respeito à pacificação política.
Álvaro Villarraga, que é diretor de Acordos da Verdade da entidade e que, nos anos 1970, foi membro do Exército Popular de Libertação, disse, de Bogotá, que enxerga “a escalada da violência política no Brasil com grande preocupação”. Para ele, enquanto a Colômbia se esforça para deixar para trás toda a violência política, o Brasil “segue no sentido oposto”.
Desde março, tivemos no Brasil ataques a edifícios do PT e declarações sugerindo que trabalhadores poderiam pegar em armas. Como o senhor enxerga isso?
Nós aqui do CNMH recebemos a informação sobre a escalada de violência política no Brasil com grande preocupação. Nossa recomendação é que todos os esforços sejam feitos no Brasil em favor da contenção porque os resultados podem ser desastrosos. Em meio à violência política, um país perde a civilidade. Expressamos, portanto, preocupação e solidariedade. Por cima das profundas diferenças políticas que podem existir, não devem ser tolerados ataques políticos a sedes de partidos nem declarações que incitem o ódio.
Os resultados podem ser desastrosos.Em meio à violência política, um país perde a civilidade.
Como deter esse processo?
O discurso dos políticos e dos líderes sociais deve ter sempre a cultura da não violência. É preciso exigir isso deles. Agora, aqui na Colômbia, o Ministério Público e a Defensoria Pública mantêm grupos de observação que têm autorização para intervir na sociedade quando detectam um foco de violência política. Esses grupos não usam armas. Estão nas manifestações de rua e nos eventos eleitorais usando jalecos que os identificam. Entram em ação sempre que encontram um foco de violência. Fazem relatórios e emitem comunicados oficiais. Em Bogotá, uma cidade governada pela esquerda há quatro eleições, criaram o chamado Grupo de Convivência. Ele está ligado à Secretaria de Governo e tem o dever de acompanhar mobilizações, exercendo uma função muito importante: eles devem agir para debelar confrontos muito antes de a força policial ser acionada para entrar em ação.
E a violência virtual ligada à política? Como combater?
Esse é um fenômeno mundial. Na Colômbia, já sabemos que 90% das ameaças feitas pelos grupos paramilitares vêm por e-mail ou pelas redes sociais. São os chamados grupos de propaganda negra. Eles são organizados e muito ativos. Fazem ameaças, montagens virtuais e espionagem. Mas também há aqui uma vigilância virtual, conduzida por órgãos públicos. É uma ideia.
Quais são os riscos reais da escalada de violência política? O que acontece quando há confronto?
Enormes. Nós, aqui na Colômbia, estamos tentando fechar uma página histórica ligada à violência. Estamos selando um pacto para que a violência deixe de ser um meio de ação em disputas políticas. Tivemos 6 milhões de deslocados, milhares de assassinatos, sequestros. É triste ver no Brasil sinais que indicam que o país vai no sentido oposto.
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