Em Cuba, Dilma foi pragmática ao não tratar de direitos humanos
Ao evitar comentários sobre direitos humanos em Cuba, a presidente Dilma Rousseff mostrou ter aprendido com europeus e norte-americanos a tratar de forma pragmática as relações internacionais. Por questões de soberania e econômicas, não seria interessante para o Brasil polemizar a questão. Internamente, por outro lado, o governo federal politizou a violenta reintegração de posse do Pinheirinho ao lançar nota condenando a violação de direitos dos habitantes da ocupação, em São José dos Campos, em São Paulo, estado sob o comando de seu maior adversário: o PSDB.
Professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Williams Gonçalves afirma que a postura de Dilma, em Cuba, foi coerente com os interesses brasileiros. "Todos os países têm problemas ligados aos direitos humanos. Por que não se faz escândalo em razão da manutenção da pena de morte nos Estados Unidos?", questiona o professor. Segundo Gonçalves, os norte-americanos transformaram os direitos humanos em um instrumento de política externa. "Cuba está em um processo de abertura econômica, que ainda não está ocorrendo com a dinâmica esperada", diz.
Professor de Ciência Política, Direitos Humanos e Direito Constitucional do UniCuritiba, Cássio Marcelo Mochi faz análise semelhante. "O Brasil está dizendo para os Estados Unidos e Europa: também sabemos ser pragmáticos. Cuba tem um mercado promissor que pode se tornar interessante para nós. Por esse motivo, não vamos falar de direitos humanos", afirma. Mochi também argumenta que em razão das inúmeras violações cometidas em todo o país, é mais inteligente tentar resolver os problemas internos do que externos.
Pinheirinho
Embora considere a ação no Pinheirinho truculenta, a nota do governo teve aspecto político, na avaliação de Mochi. "É mais uma questão partidária pelo fato de o PSDB ser adversário. Houve situações tão violentas que não geraram essa atitude, como a invasão da Cracolândia, em São Paulo", afirma. Para Gonçalves, a atitude da polícia não foi espontânea. "Foi vinculada aos interesses imobiliários da área. A situação poderia ser tratada de outra forma."
Vinicius Boreki
A presidenta Dilma Rousseff anunciou ontem a redução do contingente de militares brasileiros no Haiti de 2,2 mil para 1,9 mil homens. O Brasil comanda a Missão da Organização das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, conhecida como Minustah, criada em 2004. A declaração foi dada no Palácio Presidencial haitiano, em Porto Príncipe. A presidente chegou ontem ao país caribenho. No giro internacional, Dilma já havia passado por Cuba.
A tropa brasileira no Haiti foi reforçada após o terremoto que devastou aquele país em janeiro de 2010. Com a redução, o contingente voltar a ter o número de militares que tinha antes da tragédia.
A mudança, segundo Dilma, faz parte de uma nova estratégia de segurança para o Haiti, que inclui a redução gradual da presença militar no país. "Temos que pensar a longo prazo e, por isso, uma comissão vai ser instalada para avaliar a segurança na medida que haja sistemática redução das tropas da Minustah", disse a presidente.
Imigração
Dilma também falou sobre a imigração de haitianos para o Brasil, condenou a ação de "coiotes" pessoas que atravessam os imigrantes ilegalmente pelas fronteiras, cobrando por isso e reforçou as medidas adotadas recentemente pelo governo brasileiro para concessão de vistos e repressão ao tráfico de pessoas vindas do Haiti.
A presidente lembrou a mudança de regras na concessão de vistos brasileiros para haitianos, que entraram em vigor recentemente, e disse que as medidas foram tomadas em reconhecimento às dificuldades sociais e econômicas do povo haitiano.
Em janeiro, o governo brasileiro decidiu regularizar cerca de 4 mil haitianos que já estão no Brasil e criou um visto especial de permanência, que não exige a comprovação de vínculo empregatício no Brasil antes da vinda para o país. As novas regras poderão beneficiar 1,2 mil haitianos por ano.
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